Cientistas avisam: Amazónia está prestes a alcançar um ponto de não retorno

Floresta amazónica. Foto: Ivars Utināns/Unsplash

A Amazónia está cada vez menos resiliente e com mais dificuldade em recuperar de secas e fogos, concluiu uma equipa de investigadores, que apelam a um ponto final na desflorestação e degradação da maior floresta tropical do mundo.

Os autores do novo estudo, publicado na revista Nature Climate Change, analisou dados relativos à Amazónia durante as últimas décadas, incluindo informação obtida por satélite sobre a biomassa total de árvores e plantas ao longo do tempo. Da equipa fazem parte cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e do PIK – Instituto Potsdam para a Pesquisa sobre o Impacto Climático e da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.

Estes especialistas acreditam que a Amazónia poderá chegar em breve a um ponto de não retorno, a partir do qual as grandes quantidades de árvores começarão a morrer e a maior parte do território se transformará numa savana, com sérios impactos para a biodiversidade, a capacidade desta floresta para armazenar carbono e as alterações climáticas, avançam numa nota sobre as conclusões do estudo. Para já ainda não é claro quando tal vai acontecer, mas a perda de resiliência – ou seja, capacidade de recuperação – é “consistente” com o aproximar desse momento determinante, avisam.

“Temos agora dados de satélite que cobrem um longo período de tempo para observarmos mudanças na resiliência”, explica Chris Boulton, da Universidade de Exeter, e um dos autores da investigação. “O nosso estudo olhou em detalhe para as mudanças mês a mês na forma como a floresta respondia às condições flutuantes do clima.”

A equipa concluiu que a resiliência da floresta amazónica caiu durante as grandes secas de 2005 e 2010, como parte de um declínio em curso iniciado no começo do século e que se mantinha em 2016, último ano para o qual foi analisada informação. “Como resultado, esperamos que a floresta recupere agora mais devagar de uma seca do que há 20 anos.”

Aliás, se é verdade que a resiliência aumentou de 1991 até cerca de 2000, a sua descida constante desde então levou a que atingisse agora níveis bem abaixo do que se registava nesse primeiro momento. “A desflorestação e as alterações climáticas são as causas mais prováveis deste declínio”, aponta Niklas Boers, outro dos autores do estudo, ligado ao PIK e à Universidade de Munique.

Os cientistas perceberam também que o problema é mais grave nas zonas mais próximas da actividade humana ou onde a queda de chuva é menor. Apesar das alterações climáticas, os níveis médios de precipitação não se alteraram muito nas últimas décadas, mas a estação seca tornou-se mais longa e as secas mais fortes e comuns.

Aliás, a biomassa de árvores e plantas diminuiu apenas ligeiramente, mas a perda de resiliência foi bastante mais forte. “A floresta tropical pode parecer mais ou menos a mesma, mas todavia pode estar a perder resiliência, fazendo com que seja mais lenta a recuperação de um evento principal como uma seca”, nota por sua vez Tim Lenton, da Universidade de Exeter.

As conclusões do novo estudo, sublinha este investigador, “são provas evidentes da necessidade de reverter a desflorestação e a degradação da Amazónia, para trazer-lhe de volta alguma resiliência contra as alterações climáticas que estão a acontecer.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.