Coral-laranja (Dendrophyllia ramea), Granada, Espanha. Foto: CCMAR

Como é que os corais conseguiram colonizar os oceanos do mundo?

Uma equipa de investigadores do CCMAR (Centro de Ciências do Mar) da Universidade do Algarve estudou a história dos corais duros ao longo de cerca de 400 milhões de anos para saber como conseguiram colonizar os oceanos do mundo. O artigo foi publicado na revista Nature.

Ana Campoy, investigadora do CCMAR, e a sua equipa explicaram que os primeiros corais tiveram origem em águas profundas, ou seja, a mais de 200 metros de profundidade. Estes corais são diferentes dos que formam extensos recifes em águas tropicais, como a icónica Grande Barreira de Coral.

Os antigos corais eram solitários, o que significa que não formavam colónias ou recifes e como viviam num ambiente escuro, alimentavam-se capturando plâncton em suspensão na água. 

E como é que os corais chegaram a colonizar os oceanos do mundo?

Utilizando uma árvore filogenética, os investigadores analisaram as relações entre as espécies, considerando se os corais tinham uma relação simbiótica com algas microscópicas chamadas zooxantelas, e se eram coloniais ou solitários.

Logo perceberam que as preferências de profundidade dos corais estavam intimamente ligadas às suas características: os corais com zooxantelas preferem águas rasas e claras (essas águas têm pouca matéria orgânica e as algas fornecem alimento através da fotossíntese) e as espécies coloniais tendem a viver em áreas mais rasas, enquanto os corais solitários dominam as zonas mais profundas.  

O estudo concluiu que o início da simbiose com zooxantelas desencadeou uma rápida colonização dos corais e o sucesso em águas pouco profundas, enquanto a colonização das águas mais profundas foi muito mais lenta.

Descobriram também que os corais coloniais e não zooxantelados mostraram uma agilidade notável na colonização de diferentes profundidades, particularmente em águas pouco profundas. 

“O estudo não só fornece informações valiosas sobre a forma como a vida marinha se adaptou ao longo de milhões de anos, mas também nos orienta na conservação destes ecossistemas marinhos vitais para as gerações futuras, uma vez que as taxas de colonização crescentes provenientes de zonas mais profundas podem indicar uma oportunidade de conservação”, escreve o CCMAR em comunicado. 

Embora a investigação tenha analisado 513 espécies de corais duros, o que representa apenas uma fração das cerca de 1.500 espécies conhecidas, proporcionou uma abordagem pioneira para compreender os movimentos das espécies ao longo dos gradientes ambientais, tais como a profundidade, a latitude ou a altitude, e abre caminho a futuras investigações. 

O mar profundo alberga um ecossistema surpreendentemente rico. Em alguns casos é mesmo comparável com as águas mais rasas. Os corais duros são um exemplo disso, uma vez que são espécies cruciais tanto em águas mais profundas como em águas de menor profundidade.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.