Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Há mais cinco quebra-ossos a sobrevoar os Picos de Europa

Cinco quebra-ossos foram libertados este Verão no Parque Nacional dos Picos de Europa, em Espanha. Em 11 anos foram reintroduzidas 30 aves nesta área protegida para recuperar a espécie.

As cinco aves foram libertadas na semana passada, depois da autorização das autoridades do Principado das Astúrias, noticiou a agência de notícias espanhola EFE. 

Todos os quebra-ossos (Gypaetus barbatus) foram cedidos pelo governo de Aragão ao projecto da Fundación para la Conservación del Quebrantahuesos (FCQ), em coordenação com as autoridades ambientais do Principado das Astúrias, Cantábria e Castela e Leão.

A partir de então, os técnicos especialistas da FCQ estão a seguir as aves de perto, graças a dispositivos de radioseguimento terrestre e GPS para vigiar os seus movimentos, a sua alimentação, comportamentos e primeiros voos.

Estes cinco quebra-ossos passaram as diferentes fases do seu desenvolvimento nas instalações do centro de reprodução em cativeiro de Zaragoza e depois no Parque Nacional de Ordesa y Monte Perdido, onde estiveram em contacto com outros exemplares da sua espécie. Agora vão completar o seu processo de crescimento nas Astúrias.

Aos 30 quebra-ossos já reintroduzidos há que acrescentar a ocorrência esporádica de animais que visitam os Picos de Europa todos os anos. Já têm sido observadas aves procedentes dos projectos de recuperação da espécie que estão a decorrer na Andaluzia e Castellón.

O projecto de reintrodução de quebra-ossos no Parque Nacional dos Picos de Europa começou em 2010. A espécie estava extinta nesta região desde a década de 1950. Em Março de 2020 foi registada primeira reprodução com sucesso, depois de uma ausência de 75 anos. O casal que se reproduziu na vertente asturiana do maciço central foi o primeiro a reproduzir-se com sucesso fora dos Pirinéus.

A sua reintrodução nos Picos de Europa pretende favorecer o intercâmbio de exemplares com a população pirenaica através do corredor ibero-cantábrico.

O quebra-ossos tem o nível mais elevado de protecção na União Europeia. 

O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

“No último século, estas aves sofreram um drástico processo de regressão em toda a Eurásia, que levou ao seu declínio e desaparecimento na maioria das áreas onde existiam”, segundo uma nota do Principado das Astúrias. “De facto, a população pirenaica, de onde são originários os exemplares reintroduzidos no parque nacional, é a população selvagem mais importante da Europa, e alberga 85% das aves que voam nas montanhas europeias.”

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.