Foto: Albano Soares

Há muito mais diversidade de abelhas nos jardins de Lisboa do que se pensava

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As muitas espécies de abelhas encontradas em pequenos espaços verdes, no meio da cidade, estão a surpreender investigadores que estudam este grupo de insectos em Portugal.

O número de espécies de abelhas conhecidas em Lisboa tem vindo a crescer nestes últimos anos, ajudado pela maior aposta em trabalhos nesta área, com bons resultados para o conhecimento sobre como se adaptam estes insectos a viver numa grande cidade. E algumas descobertas estão a surpreender quem se dedica a estes insectos.

“Este ano, começámos a perceber que nos jardins da cidade aparece uma diversidade muito maior de abelhas do que esperávamos”, afirma Albano Soares, entomólogo e investigador ligado ao Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, que nos últimos anos se tem dedicado à investigação sobre estes insectos.

Ao todo, na cidade de Lisboa conhecem-se hoje pelo menos 150 espécies diferentes de abelhas, incluindo muitas que são solitárias, pois ao contrário das abelhas-do-mel e dos abelhões não vivem em colónias. “Há cinco ou seis espécies que estão em quase todo o lado e são relativamente fáceis de observar, mas descobrimos que outras abelhas que não são comuns encontram sítio para nidificar nestes jardins”, nota o especialista.

Abelha preta com asas azuis sobre uma flor
Abelha-carpinteira (Xilocopea violacea), uma abelha comum na cidade. Foto: Bautsch/Wikimedia Commons

Em causa não estão espaços verdes maiores como o Parque do Vale da Montanha ou a Mata de Alvalade – nesta última, estão já identificadas 126 espécies de abelhas -, mas sim jardins onde a equipa do Tagis não esperaria encontrar tanta diversidade, como é o caso da Praça de Londres, do Jardim Gulbenkian e do jardim Amália Rodrigues, junto ao Palácio da Justiça.

Para isso, contribui bastante a existência de plantas nectaríferas – mesmo que sejam plantas exóticas – das quais estes insectos dependem para se alimentar. “Por exemplo, em Agosto, no jardim da Praça de Londres, encontrámos 15 espécies diferentes de abelhas em volta de uma Abelia grandiflora“, recorda Albano Soares, referindo-se a uma planta híbrida de origem asiática muito usada em jardins. Este entomólogo ressalva, todavia, que é importante dar prioridade às plantas nativas em jardins privados.

Planta com muitas flores brancas
Planta da espécie Abelia grandiflora. Foto: Mariko GODA/Wiki Commons

Regas regulares e flores o ano todo

Outras vantagens dos pequenos jardins urbanos espalhados pela cidade: o facto de serem regados regularmente e de terem espécies de plantas diferentes, que permitem uma floração mais ou menos constante ao longo do ano, acrescenta o responsável do Tagis. E por esse motivo, em certas alturas do ano esses pequenos espaços verdes podem até abrigar mais variedade do que outros locais, como é o caso da Mata de Alvalade, que em Agosto “tem pouca diversidade de plantas nectaríferas.”

Mas de onde terão vindo todas essas espécies de abelhas e como é que chegaram ao centro da cidade? O investigador acredita que sempre aí estiveram e que existe em Lisboa uma “presença muito antiga” desses insectos, “associada a uma diversidade imensa de plantas em flor”.


Saiba mais.

Fique a conhecer cinco das muitas espécies de abelhas agora descobertas em jardins lisboetas. E recorde como pode atrair abelhas e outros insectos polinizadores para a sua varanda ou o seu jardim.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.