Inglaterra está a criar habitats para proteger pessoas e vida selvagem do clima

Num estuário de Essex, na costa sudeste do Reino Unido, estão a ser criados novos habitats para ajudar a vida selvagem e as comunidades locais a defenderem-se da subida do nível do mar, a uma escala sem precedentes na Europa. A primeira fase do projecto Wallasea Island Wild Coast terminou hoje e recebeu a visita do comissário europeu do Ambiente.

 

Hoje é inaugurado o Jubilee Marsh, numa cerimónia que conta com a presença do ministro britânico do Ambiente, Rory Stewart, e do comissário europeu Karmenu Vella. Esta zona, aberta ao público, faz parte do projecto da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) e Crossrail que está a criar paisagens que ajudem pessoas e natureza a adaptarem-se às alterações climáticas. O objectivo é criar uma nova reserva natural de 670 hectares, transformando zonas agrícolas abandonadas em zonas húmidas como as que existiam naquele local há cerca de 400 anos.

Este esforço, onde o rio Crouch desagua no Mar do Norte, junta empresas, conservacionistas, Governo britânico e Comissão Europeia e pretende ser um projecto piloto a replicar em outras zonas do Reino Unido e da Europa.

Os novos habitats entre-marés que estão a ser criados nesta zona costeira, a uma escala sem precedentes na União Europeia, pretendem criar condições de nidificação para muitas espécies de aves limícolas, substituindo habitat que se perdeu por causa da subida do nível do mar, e reduzir o risco de inundações para as comunidades locais.

Com o Wallasea Island Wild Coast, a RSPB quer redesenhar o mapa do Sul de Essex. “Originalmente, Wallasea eram campos agrícolas abaixo do nível do mar que se tornavam cada vez mais difíceis de proteger da subida das águas”, explica a organização.

Usando mais de três milhões de toneladas de solos que resultaram da escavação de túneis para o projecto Crossrail, em três anos, o nível do solo subiu e as defesas marítimas foram pensadas e estão a ser geridas de forma a criar um mosaico de habitats entre-marés, reduzindo o risco de inundações e recriando habitats para a vida selvagem, que podem beneficiar espécies como o alfaiate (Recurvirostra avosetta), o pilrito-comum (Calidris alpina) e o ganso-de-faces-negras (Branta bernicla).

Este projecto vai ajudar ainda os pernilongos (Himantopus himantopus) que se espera venham a nidificar no Sul de Inglaterra com as alterações climáticas. “Os pernilongos estão a passar cada vez mais tempo em Inglaterra, vindos do Sul da Europa”, disse Chris Tyas, o gestor do projecto. “Mas ainda não se estabeleceram. Esperamos que a ilha Wallasea seja a peça que falta.”

E o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) – que deixou de nidificar no Reino Unido – poderá regressar se forem criadas as condições.

Outra espécie a beneficiar será o colhereiro (Platalea leucorodia), especialmente por causa da lagoa criada com uma ilha para lhe disponibilizar um local de nidificação.

“O projecto Wallasea Island é um exemplo fantástico de como o pensamento criativo pode unir desenvolvimento e protecção ambiental, trazendo benefícios para ambos”, comentou o ministro do Ambiente, Rory Stewart.

Já o comissário europeu do Ambiente não esqueceu as vantagens para a Rede Natura 2000. “O projecto inovador que envolve a RSPB e a Crossrail mostra o valor das novas técnicas ambientais (…) e cria um extraordinário recurso natural que se acrescenta à rede Natura 2000, em expansão.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.