Foto: Paulo Valdivieso/Wiki Commons

Mais de 26.300 holandeses já assinaram petição contra aeroporto no Montijo

A associação holandesa para a protecção das aves apela aos holandeses para se unirem contra o novo aeroporto e ajudarem a congénere portuguesa SPEA, de forma a protegerem o maçarico-de-bico-direito, símbolo nacional do país.

 

Numa petição que foi lançada no início deste mês, a associação Vogelbescherming Nederland afirma que “um novo aeroporto em Lisboa vai ameaçar os maçaricos-de-bico-direito e dezenas de milhares de outras aves”, lembrando que a nova infra-estrutura está prevista para o meio de uma área da Rede Natura 2000.

“É um lugar muito importante para as aves, incluindo o maçarico-de-bico-direito, os colhereiros, íbis pretas e flamingos”, acrescenta a associação, que é parceira holandesa da BirdLife Europe e congénere da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

O projecto vai ser “especialmente desastroso” para os maçaricos-de-bico-direito (Limosa limosa). A Holanda é um destino importante para estas aves, muitas das quais ali se reproduzem, depois de chegarem de África. Nas contas de um porta-voz da associação holandesa, Thijs den Otter, o país acolhe uma vez por ano 85% da população mundial da espécie.

 

Maçarico-de-bico-direito. Foto: Kaiserm123/Wiki Commons

 

Mas antes de chegarem à Holanda para nidificar, vindos de África, pelo menos metade destes maçaricos pára por algum tempo na zona do Estuário do Tejo, que vai ser afectada pelo novo aeroporto. Ali descansam e recarregam energias, alimentando-se nos campos de arroz.

“Se o aeroporto for construído, os maçaricos-de-bico-direito não vão conseguir ganhar força suficiente para o resto da viagem até à Holanda. Ou podem chegar demasiado tarde à Holanda para criarem as crias”, afirmam na petição. E por isso, apelam “em conjunto com a SPEA” ao Governo português para pôr um fim ao projecto do aeroporto no Montijo.

 

Unidos à SPEA para chegar à Comissão Europeia

O objectivo da iniciativa é dar mais força à SPEA nas acções contra a construção do aeroporto. “A SPEA vai aos tribunais e à Comissão Europeia com o apoio da Vogelbescherming e de outros parceiros da BirdLife Europe”, indica a associação holandesa, numa nota publicada no seu site.

“Se os protectores de aves europeus estiverem juntos perante a Comissão Europeia, seremos mais fortes do que a SPEA sozinha. Mas somos ainda mais fortes se a CE souber que somos apoiados por milhares de cidadãos de todos os países envolvidos”, acrescentam, num apelo redigido em holandês à assinatura do documento.

De acordo com esta ONG, os maçaricos-de-bico-direito “não estão a evoluir bem”, pois o seu número “está a cair cerca de 5% por ano”. Com efeito, há vários anos que cientistas estudam as causas do declínio continuado desta espécie, classificada como Quase Ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Um dos principais problemas apontados tem sido a falta de sítios adequados para a nidificação, devido à reconversão agrícola de terras húmidas e à agricultura intensiva.

 

Estuário do Tejo. Foto: Joana Bourgard/Wilder

 

No final de Janeiro, depois de ser conhecida a declaração de impacte ambiental condicionada emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente, a SPEA e outras sete organizações portuguesas anunciaram que vão recorrer aos tribunais e a Bruxelas para travar o novo aeroporto no Montijo.

Está também a correr uma queixa contra o Estado português por violação do AEWA – African-Eurasian Waterbird Agreement, acordo internacional que protege 225 espécies aquáticas migradoras, apresentada pela SPEA e por dois cientistas portugueses especialistas nessas aves.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde esta entrevista a José Alves, investigador da Universidade de Aveiro e especialista no maçarico-de-bico-direito e noutras aves que recorrem ao Estuário do Tejo, sobre os efeitos que terá a construção de um aeroporto no Montijo.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.