Máscaras descartáveis estão a sufocar a natureza, alerta nova campanha

Três organizações portuguesas de conservação da natureza juntaram-se para apelar ao uso de máscaras reutilizáveis. A nova campanha que começou a 15 de Setembro alerta para os danos à vida selvagem das máscaras descartáveis.

“Uma protecção para si. Um sufoco para a natureza” é o alerta da ANP (Associação Natureza Portugal) – WWF, da Sciaena (Associação de Ciências Marinhas e Cooperação) e da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável numa nova campanha lançada nas redes sociais.

Desde o início da pandemia do Covid-19, os descartáveis têm um impacte cada vez mais visível na vida selvagem. Por isso, estas associações pedem a utilização das máscaras reutilizáveis sempre que seja seguro e por quem não pertença a um grupo de risco.

“É crucial que usemos máscaras reutilizáveis, sempre que for seguro fazê-lo”, disse, em comunicado, Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANP|WWF. “O risco dos descartáveis que, depois de usados, são deitados na natureza, são um perigo imediato para a biodiversidade, e um perigo a longo prazo para a nossa saúde.”

Segundo estas associações, as máscaras descartáveis colocam “a saúde de muitos animais em risco”. 

“Com a pandemia vimo-nos obrigados a interiorizar novos hábitos em nome da saúde e segurança de todos. Mas infelizmente perduram outros, como o desleixo que leva o nosso lixo a chegar aos rios e mares por todo o planeta”, acrescentou.

Cerca de 80% de todo o plástico que está no oceano tem origem em terra, e “é garantido que as máscaras e luvas que vemos nas nossas ruas vão acabar aí”.

Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF, justifica a necessidade para esta sensibilização “pela banalização do uso de plástico descartável a que temos assistido nos últimos meses, e que levou inclusivamente a um adiamento de seis meses em Portugal da aplicação da Diretiva sobre Plásticos de Uso Único. Esta banalização acontece sob o pretexto da segurança sanitária, quando não há evidência científica que suporte esta opção”.

Renata Fleck, da Sciaena, teme um agravamento da crise de fuga de plásticos para os oceanos. E dá um exemplo do que poderia ser evitado. “Até há um mês eram usadas diariamente 98.000 capas de plástico descartável em aulas de condução no nosso país, quando a utilização de máscara reutilizável, a correta desinfeção do volante e a lavagem das mãos antes e após a aula seriam suficientes.” O mesmo se aplica a vários outros setores que passaram a fazer o uso desnecessário de plásticos descartáveis devido a pandemia, acrescentou.

“A resposta à atual crise pandémica não pode esquecer que existem outras crises que estão a decorrer em paralelo – alterações climáticas, perda da biodiversidade, exploração desregrada dos recursos naturais”, defende Susana Fonseca, da ZERO. Na sua opinião “é fundamental minimizar o impacto das soluções encontradas, onde a reutilização pode assumir um papel chave”. 

Estas associações alertam que, depois de usadas, as máscaras descartáveis acabam muitas vezes por ser deitadas ao chão e, por falta de informação, são muitas vezes colocadas no contentor errado (devendo ser colocadas no lixo orgânico). “Não sendo recicláveis, é lixo que se vai acumulando, juntando-se aos milhares de descartáveis que todos os dias se avistam perdidos no chão.” 

“Proteger e restaurar a natureza é a forma mais eficaz de prevenir futuras pandemias: querer proteger a nossa saúde e ao mesmo tempo colocar a do planeta em risco é uma contradição gritante. Assim, a campanha apela: ‘Sempre que for seguro, optem por uma máscara reutilizável. Protege-te a ti, e ao planeta também.'”


Agora é a sua vez.

Siga a campanha através de #mascarasquesufocam no Facebook.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.