Estrela-do-mar, algas e outros organismos encontrados na zona entremarés rochosa. Foto: bLueTIDE

O projecto bLueTIDE está a aproximar escolas do mar, mesmo as que ficam longe

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O objectivo é juntar escolas ligadas ao mar com outras mais distantes e a todas contagiar sobre a importância de proteger a vida na zona entremarés rochosa. A Wilder falou com a responsável da equipa, Zara Teixeira, e conta-lhe o que tem sido feito.

Os alunos e professores da Escola Básica EB1 Cruz da Picada, em Évora, demoram mais de uma hora para chegarem perto do mar. Já os colegas de quatro escolas básicas de Sines e Porto Covo têm a praia logo ali à mão. Mas neste último ano e meio, em conjunto com outras centenas de colegas, têm estado juntos num projecto dedicado à literacia do oceano, o bLueTIDE (“maré azul”, traduzido para português).

Uma equipa de 24 investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente está a trabalhar com estas e outras sete escolas portuguesas para dar a conhecer a biodiversidade fascinante da zona entremarés rochosa e a importância de a conservar. Em causa está a zona que fica a descoberto na maré baixa e submersa no resto do tempo, onde há partes de rocha em muitas praias.

Ida à maré de participantes no projecto. Foto: bLueTIDE

O bLueTIDE (‘blue tide’ em português significa “maré azul”) tem estado a trabalhar com alunos de 12 escolas do primeiro ciclo, chegando a 541 crianças, explica a principal responsável, Zara Teixeira. Sete dessas escolas ficam em localidades costeiras como Figueira da Foz e Peniche e participam no programa Escola Azul, do Ministério do Mar, destinado a promover a literacia do oceano; outras cinco ficam em locais como o Sardoal, Vila Nova da Barquinha e Benavente, e estão distantes da praia, tanto na geografia como no contacto habitual com o tema durante as aulas.

Antes de tudo, a falta de conhecimento sobre a zona entremarés rochosa é transversal a todo o país, incluindo entre quem vive junto à costa, sublinha a investigadora. E por isso, “o caminho evidente era o de transmitir o que a ciência conhece sobre estes habitats e motivar para uma mudança de comportamentos que promovam a sua conservação”.

Aprendizagem sobre o oceano dentro da sala de aula. Foto: bLueTIDE

Iniciado em Janeiro de 2021, o projecto é financiado pelo programa EEAGrants e termina no início do próximo ano. Entre as actividades na sala de aula, mais formais mas sempre lúdicas, e visitas à zona entremarés rochosa para todas as escolas, inclui-se um muito esperado dia de Festa na Praia.

“Os alunos fazem de conta que são animais da zona entremarés rochosa, para de uma forma divertida trabalharem temas como a competição por alimento e espaço e a reprodução.”

Participantes numa das actividades de Festa na Praia que já se realizaram. Foto: bLueTIDE

“Nós não temos mar, mas temos rio”

“O fraco vínculo que as comunidades distantes do mar têm com o Oceano e os poucos conhecimentos que detêm” é outro desafio a que o projecto quer responder, nota Zara Teixeira, lembrando que foi por isso que incluíram escolas a mais de 50 quilómetros da costa. “No final esperamos que se sintam motivadas a submeter uma candidatura para obter a distinção de Escola Azul.” 

A coordenadora do bLueTIDE salienta um encontro online que todos fizeram. “Neste evento o destaque foi para as crianças. Elas apresentaram os projetos Escola Azul, confidenciaram-nos quais são os seus animais marinhos preferidos e argumentaram porque é que não é preciso estar perto do mar para trabalhar a temática do Oceano e ser uma Escola Azul. Por exemplo, ‘Nós não temos mar, mas temos rio, e o rio vai parar ao mar’.”

Professores podem pôr “Um Pé na Maré”

Mas não são apenas as 12 escolas abrangidas pelo bLueTIDE que têm acesso ao projecto, adianta a mesma responsável. Os professores de ensino Básico e Secundário podem participar numa acção de formação de curta duração com seis horas, Um Pé na Maré, que é acreditada pela Ordem dos Biólogos.

Objectivo: “desenvolver competências teóricas e práticas para a realização de saídas de campo na zona entremarés rochosa.” Até agora realizaram-se quatro acções e outras quatro estão a ser preparadas para o próximo ano lectivo.

Ao mesmo tempo, a equipa está a preparar um livro-kit de actividades para professores, que vai incluir materiais usados nas actividades do projecto, incluindo quizzes online e um guia para visitar a zona entremarés rochosa. “Estará mais tarde disponível em formato digital, para acesso gratuito. O objectivo é que os docentes possam, mais tarde, planear aulas sobre o tema, mesmo sem o apoio dos investigadores”, indica a principal responsável.


Saiba mais.

Para mais informações mais sobre o bLueTIDE, pode consultar o site do projecto e também a página de Facebook.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.