Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Standbild-Fotografie/WikiCommons

Censo das Aves Comuns: A primavera em Portugal tem cada vez menos andorinhas-das-chaminés

Se os números continuarem a descer, em breve teremos de encontrar outro símbolo para a chegada desta estação, alerta a SPEA.

Os últimos resultados do Censo de Aves Comuns (CAC) mostram que o número de andorinhas-das-chaminés caiu 40% nos últimos 20 anos. O alerta foi lançado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que coordena estas contagens anuais. 

Esta espécie não é todavia a única em apuros, já que se nota um “declínio generalizado de diversas espécies de aves migradoras de longa distância”, aponta a SPEA, numa nota de imprensa divulgada esta terça-feira. “Cuco, picanço-barreteiro e rola-brava, por exemplo, viram também os seus números diminuir não só em Portugal, mas também em Espanha e na Europa em geral.”

Cuco-canoro. Foto: Alastair Rae / Wiki Commons

“Ao olharmos para as aves comuns podemos compreender melhor o que se passa em nosso redor. Estas espécies vão ser as primeiras a dar-nos indicação de que alguma coisa não está bem”, considera Hany Alonso, coordenador do CAC e técnico da ONG portuguesa.

De acordo com a SPEA, aves migradoras como é o caso da andorinhas estão a ser afetadas pelas alterações climáticas, que alteram tanto os sinais que as levam a partir em migração, como as quantidades dos insetos de que se alimentam.

Mas os problemas detetados pelo CAC estendem-se a aves residentes que passam todo o ano em Portugal, como o pardal, o peneireiro e a milheirinha, que são contadas na categoria de espécies comuns em meios agrícolas. No caso do peneireiro e da milheirinha, aponta a SPEA, ambos “estão em declínio nos últimos 20 anos devido à intensificação das práticas agrícolas, que têm vindo a artificializar os nossos campos, destruindo os mosaicos tradicionais que permitiam que a biodiversidade florescesse.”

Peneireiro. Foto: Primejyothi/Wiki Commons

As tendências destas e de outras aves comuns em Portugal, num total de 64 espécies, foram publicadas agora num relatório com os resultados mais recentes do CAC. Em causa estão as tendências populacionais entre 2004 e 2023, incluindo informação que compara esses dados com a situação dessas espécies em Espanha e na Europa.

“Numa altura em que precisamos de ter mais informação sobre o estado da biodiversidade, estes dados são importantes porque além de nos ajudarem a identificar as espécies e habitats que podem estar sob maior ameaça e sobre as quais devemos priorizar medidas de conservação, também podem ajudar a definir e a implementar políticas e medidas de gestão sustentáveis”, salienta Hany Alonso.

Em conjunto com dados de programas similares noutros países da Europa, os dados do CAC permitem, por exemplo, medir o progresso relativamente às metas estabelecidas pela União Europeia para travar o declínio da biodiversidade.

Este censo é um programa de monitorização a longo prazo de aves comuns nidificantes e seus habitats, em Portugal. Nesta contagem anual que decorre há 20 anos, centenas de voluntários recolhem, de forma sistemática, dados sobre a presença de diferentes espécies.


Agora é a sua vez.

A SPEA apoia à participação de mais voluntários no CAC. Para participar neste censo, saiba como fazer.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.