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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Peixes grandes estão a ficar menores e peixes pequenos estão a substituí-los

Peixes grandes, como as raias espinhosas, estão a tornar-se mais pequenos e peixes mais pequenos, como a cavala, estão a tornar-se cada vez mais abundantes, revela um novo estudo científico.

Os peixes dos oceanos estão a mudar; nos mares de todo o mundo está a dar-se uma substituição de espécies e a ocorrer mudanças dentro das mesmas espécies, segundo um novo estudo publicado na revista Science, que analisou dados de todo o mundo dos últimos 60 anos (entre 1960 e 2020) e de diversas espécies de animais e plantas.

Estudos anteriores mostram que o tamanho dos peixes troféu, capturados nas competições de pesca tem vindo a diminuir e que muitas das espécies mais ameaçadas são grandes.

O estudo publicado a 7 de Setembro mostra que a mudança no tamanho do corpo advém do facto de indivíduos dentro das espécies se tornarem menores, mas também pelo facto de espécies maiores serem substituídas por outras menores.

“Em alguns locais, por exemplo, têm sido observados indivíduos cada vez menores de raias espinhosas, enquanto espécies com um corpo menor, como por exemplo a cavala, estão a aumentar em abundância”, explicou, em comunicado, Inês S. Martins, primeira autora deste estudo, investigadora na Universidade de York, no Reino Unido, antiga aluna da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e que fez o estudo enquanto investigadora da Universidade de St Andrews, na Escócia. “Seja pelas preferências alimentares dos seres humanos, ou por causa do aquecimento dos seus habitats, os peixes grandes simplesmente não conseguem descanso”, acrescentou.

A diminuição do tamanho do corpo foi mais comum entre os peixes, mas as alterações foram mais variadas entre outros grupos de organismos, como plantas e invertebrados. Ao analisar grupos de espécies, o estudo demonstrou que estão a ocorrer alterações complexas, com alguns organismos a tornar-se maiores enquanto outros diminuem.

“Estes resultados sugerem que quando os grandes organismos desaparecem outros tentam ocupar o seu lugar e utilizar os recursos que se tornam disponíveis”, explicou Maria Dornelas, coordenadora deste estudo, investigadora da Ciências ULisboa e da Universidade de St Andrews.

“Reconhecer e explorar esta complexidade é imperativo se quisermos compreender os mecanismos envolvidos na forma como o tamanho do corpo dos organismos está a mudar ao longo do tempo”, acrescentou Inês S. Martins.

O estudo também observou a substituição de alguns organismos grandes por muitos pequenos, mantendo constante a biomassa total. Este resultado surpreendente apoia a ideia de que os ecossistemas tendem a compensar as mudanças, mantendo a biomassa global das espécies estudadas num determinado habitat estável. Esta estabilidade é atribuída a um compromisso entre reduções no tamanho corporal e aumentos simultâneos na abundância entre os organismos.

Os investigadores acreditam que estes resultados têm implicações para a compreensão de como os organismos se estão a adaptar aos desafios da era do Antropoceno. “É claro que a substituição generalizada de espécies que vemos em todo o mundo está a ter consequências mensuráveis”, disse Maria Dornelas. “O facto de os organismos se tornarem mais pequenos tem efeitos importantes, uma vez que o tamanho dos animais tem influência no funcionamento dos ecossistemas e na forma como os seres humanos deles beneficiam. Peixes maiores geralmente podem alimentar mais pessoas do que peixes menores”.

“Este estudo destaca a importância de considerar as mudanças nas características das espécies se quisermos compreender os efeitos das alterações ambientais e da influência humana na biodiversidade a nível global”, salientou Franziska Schrodt, também coordenadora deste estudo, investigadora na Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.