Foto: Universidade de Coimbra

Polinizadores: Estudo europeu avalia recurso a bordaduras com flores em áreas de agricultura intensiva

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Liderado por duas investigadoras da Universidade de Coimbra, o novo estudo concluiu que o uso desta estratégia agroambiental, em regiões com vegetação natural e seminatural, ajuda a promover os insectos polinizadores e a produtividade dos girassóis.

 

Os resultados foram publicados esta quarta-feira na revista científica Journal of Applied Ecology e avaliaram a utilidade das bordaduras florais em áreas de agricultura intensiva, como acontece com os campos de girassóis que foram estudados nas regiões espanholas de Burgos e Cuenca.

As bordaduras florais são pequenas zonas, junto a campos agrícolas, que têm recursos florísticos. “Por exemplo, plantas com flor, com o objectivo de, entre outros, fornecer alimento – pólen e néctar – aos insetos polinizadores, especialmente quando a cultura agrícola não está em flor e os recursos alimentares são escassos”, explica Lucie Mota, primeira autora do artigo científico e investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), citada num comunicado.

Ao longo de dois anos, a equipa analisou o impacto das bordaduras florais num total de 104 campos de girassóis (52 campos por ano), registando as visitas de abelhas-do-mel e abelhas silvestres e também a produtividade dos girassóis. Estes dependem dos polinizadores para produzirem sementes.

Quanto às bordaduras, foram criadas “pelo semeio de uma mistura de sementes de espécies de plantas seleccionadas”, indica por sua vez Sílvia Castro, co-autora do estudo e também investigadora da FCTUC. “Assim, os insectos polinizadores alimentam-se do pólen e néctar destas flores que florescem antes do girassol, transitando depois para a cultura agrícola quando esta se encontrar em floração”.

Nas duas regiões de Burgos e Cuenca, as bordaduras foram semeadas tanto em campos de girassóis que tinham áreas de vegetação seminatural associada, como em campos de girassóis sem outra vegetação.

Foto: Universidade de Coimbra

Os resultados obtidos, relatam Lucie Mota e Sílvia Castro, “revelaram variação regional e interanual nas taxas de visita, provavelmente devido às diferenças estruturais existentes nas paisagens estudadas”.

Assim, na região de Cuenca, que é “caracterizada por paisagens mais heterogéneas e mais ricas em recursos florísticos, os efeitos das bordaduras florais foram significativos no segundo ano de implementação, com taxas de visita e valores de produtividade maiores em campos com esta infraestrutura verde, em comparação com os campos sem vegetação”, descrevem as investigadoras da Universidade de Coimbra.

Já na região de Burgos, a equipa não observou efeitos diferentes entre tratamentos,  “porque as comunidades de polinizadores já estavam muito depauperadas e a simples implementação das bordaduras não foi suficiente para promover os polinizadores nem a produção do girassol”.

Assim, concluem Lucie Mota e Sílvia Castro, “em agroecossistemas fortemente simplificados, estas intervenções podem não ser suficientes ou necessitam de mais tempo para produzirem efeitos significativos. Mas, em regiões onde existe vegetação natural e seminatural, a implementação de bordaduras florais foi uma estratégia de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol”, destacam.

Foto: Universidade de Coimbra

Por esse motivo, acrescentam, é importante “a preservação de algumas infraestruturas verdes naturais próximo dos campos agrícolas”.

Estre trabalho faz parte de um projeto mais vasto, o Poll-Ole-GI SUDOE, financiado pelo Programa Europeu Interreg-Sudoe e pelo Programa de Apoio da União Europeia para a Investigação e a Inovação Horizonte 2020 (Ecostack).

Além da Universidade de Coimbra, participam no projeto a Universidade de Burgos, instituição líder do projeto, a Universidade Autónoma de Madrid (Espanha), o Institut Nationale de Recherche pour l’Agriculture, l’Alimentation et l’Environment e o Centre National de la Recherche Scientifique (França).

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.