População de cavalos-marinhos resgatada na Trafaria

Cavalo-marinho-de-focinho-curto. Foto: Hans Hillewaert/WikiCommons

Animais foram capturados e resgatados hoje por técnicos do ISPA e do ICNF depois do colapso de um dos pontões da Trafaria, Almada, considerado um perigo para esta importante população de cavalos-marinhos.

O colapso de um dos pontões da Trafaria aconteceu a 25 de Março, pondo em perigo a população de cavalos-marinhos que vive debaixo desse pontão, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em comunicado.

Esta população tem animais de duas espécies, o cavalo-marinho-de-focinho-curto (Hippocampus hippocampus) e o cavalo-marinho-de-focinho-longo (Hippocampus guttulatus).

Cavalo-marinho-de-focinho-curto. Foto: Hans Hillewaert/WikiCommons

As autoridades admitem não conhecer qual a dimensão deste núcleo populacional mas afirmam que “a densidade de indivíduos encontrada debaixo dos pontões parece ser elevada sendo bastante pertinente a sua proteção”.

Até porque, acrescenta o ICNF, será necessário proceder ao afundamento do que resta do pontão, por questões de segurança.

“Dada essa urgência de intervir no pontão, seria importante assegurar a translocação daqueles indivíduos para um outro local com características adequadas, ou mantê-los em cativeiro até poderem ser novamente devolvidos à natureza.”

Essa operação aconteceu hoje, coordenada pelo ICNF. Os animais foram capturados por peritos do ISPA – Instituto Universitário, devida e excepcionalmente licenciados para esta operação. O objectivo foi capturar o maior número de espécimes de cavalos-marinhos. A Autoridade Portuária do Porto de Lisboa colaborou com esta operação, adiando a sua intervenção no pontão e permitindo essa captura dos cavalos-marinhos.

Os animais serão agora levados para o Oceanário de Lisboa, que os vai acolher e manter até à sua devolução à natureza. A data para a devolução ainda não foi decidida pelo ICNF.

As duas espécies de cavalos-marinhos em causa “têm graves problemas de conservação” e necessitam “de medidas de proteção específicas e urgentes”, lembra o mesmo instituto.

Ambas são ameaçadas pela degração ambiental, pela captura acessória em artes de pesca e ainda pela sobre-exploração ligada à medicina tradicional e à aquarofilia, como aliás acontece com os cavalos-marinhos em todo o mundo.

Estão listadas nos anexos da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção) e no Regulamento Comunitário que aplica essa convenção na União Europeia, tendo ainda sido incluídas nos anexos do recentemente publicado Decreto-Lei nº 38/2021, de 21 de maio, que aprovou o regime jurídico aplicável à proteção e à conservação da flora e da fauna selvagens e dos habitats naturais das espécies enumeradas nas Convenções de Berna e de Bona.


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.