Anémona-gigante (Telmatactis cricoides) e camarão Lysmata grabhami nas Ilhas Selvagens, expedição de 2015. Foto: Andy Mann/ National Geographic Pristine Seas

Portugal criou a maior área marinha de proteção total da Europa

O valor “incalculável” da biodiversidade das Ilhas Selvagens foi a razão que motivou o governo regional da Madeira a expandir a área marinha protegida em redor das Selvagens, criando a maior área marinha protegida com protecção total da Europa, com mais de 2.600 km2.

Nesse território com 2.677km2, numa área de 12 milhas náuticas ao redor das Ilhas Selvagens, todas as espécies aí existentes passam a estar totalmente protegidas de atividades extrativas, como a pesca ou a exploração de inertes.

Ilhas Selvagens. Foto: Andy Mann/National Geographic Pristine Seas

As Ilhas Selvagens, de origem vulcânica, são um pequeno arquipélago no Atlântico Norte, localizado a meio caminho entre a Madeira e as ilhas Canárias.

São o território português mais a sul são constituídas por duas ilhas: a Selvagem Grande, onde se localiza a Estação principal de apoio à área protegida, e a Selvagem Pequena, além de uma série de ilhéus, sendo o principal o Ilhéu de Fora, e por toda a área marinha adjacente.

Este anúncio, que surge no ano em que se assinalam os 50 anos da constituição desta Reserva, corresponde à aprovação de um novo regime jurídico sobre a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, ampliando significativamente a proteção das águas deste Arquipélago.

Foto: Andy Mann/National Geographic Pristine Seas

Com este novo regime, as Ilhas Selvagens passam a ser a maior Área Marinha de Proteção Total de todo o Atlântico Norte.

Esta decisão foi suportada por estudos científicos, jurídicos e por dados recolhidos em expedições realizadas nos últimos anos.

Uma das expedições aconteceu em Setembro de 2015, fruto de uma parceria entre a National Geographic Pristine Seas, a Fundação Oceano Azul e a Waitt Foundation. “Das suas observações do ecossistema, descobriram que as águas em redor das ilhas são um ponto vital de paragem para peixes e mamíferos migradores no Atlântico, enquanto que as águas costeiras mais próximas providenciam importantes habitats que servem de maternidade para inúmeras espécies”, segundo um comunicado da National Geographic Pristine Seas.

Anémona-gigante (Telmatactis cricoides) e camarão Lysmata grabhami nas Ilhas Selvagens, expedição de 2015. Foto: Andy Mann/National Geographic Pristine Seas

“Sabemos que é crucial proteger os corredores migratórios dos quais a vida marinha depende”, disse Paul Rose, líder da expedição da National Geographic Pristine Seas. “Esta recentemente criada reserva marinha vai garantir que a impressionante biodiversidade subaquática do arquipélago das Selvagens seja protegida e continue a prosperar.”

Espera-se que a medida ajude a aumentar a biodiversidade marinha, a riqueza genética e a capacidade reprodutiva das espécies, além de contribuir para uma melhor conservação marinha de todo o Atlântico Nordeste.

“A Madeira tem sido uma referência mundial em matéria de políticas de Conservação da Natureza, ficando este aspeto ainda mais reforçado com esta medida”, comentou, em comunicado Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira. “Dando este exemplo de capacidade e determinação ao mundo, espera servir de inspiração para que outros decisores tomem medidas semelhantes, no sentido da preservação dos nossos oceanos.”

Estrela do mar Coscinasterias tenuispina. Foto: Andy Mann/National Geographic Pristine Seas

Esta medida conta com o apoio direto da Fundação Oceano Azul, da National Geographic e do Waitt Institute, entidades que contribuíram para a obtenção de dados que, entre outros, sustentam cientificamente a decisão agora anunciada.

“O valor natural da biodiversidade das ilhas Selvagens é incalculável”, comentou José Soares dos Santos, Presidente da Fundação Oceano Azul. “Tendo por base vários estudos científicos e as expedições realizadas, a decisão do Governo Regional reforça o posicionamento da Madeira na conservação e valorização do oceano.”

Foto: Andy Mann/National Geographic Pristine Seas

Os atuais desafios mundiais da emergência climática e da crise de extinção de espécies requerem ações exemplares a nível europeu e mundial, sendo esta decisão do Governo Regional da Madeira uma resposta a esses desafios.

Num contexto em que o Oceano é um dos ecossistemas mais afetados pelas alterações climáticas e pela sua sobre-exploração, esta decisão reforça o compromisso assumido por Portugal na Conferência das Nações Unidas dos Oceanos de 2017, no sentido de aumentar consideravelmente as suas áreas marinhas protegidas, e contribui para a implementação da Estratégia da Biodiversidade da União Europeia para 2030.

Foto: Andy Mann/National Geographic

Actualmente, menos de 8% do oceano é hoje protegido. O objectivo das Nações Unidas é conseguir proteger, pelo menos, 30% até 2030.


Saiba mais.

Leia a entrevista a Emanuel Gonçalves, um dos investigadores que ajudou a criar o Guia mundial de Áreas Marinhas Protegidas, uma ferramenta que avalia a eficácia destas zonas para proteger os oceanos e sugere como as podemos melhorar. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.