Turfeira em Alpiarça na linha da frente da luta contra alterações climáticas

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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

A turfeira do Paul da Gouxa, em Alpiarça, vai ter um dos sete Laboratórios Abertos a criar na União Europeia para promover o papel das zonas húmidas enquanto sumidouros de gases com efeito de estufa, foi agora revelado.

O Paul da Gouxa – uma zona aluvial com cerca de 90 hectares atravessada pela Ribeira do Vale de Atela, que corre ao longo de 23 quilómetros – tem uma “importantíssima turfeira baixa de águas interiores (…) com uma extensão considerável”, segundo um comunicado divulgado hoje pela Universidade de Évora.

Por isso mesmo faz parte do projecto REWET – REstoration of WETlands to minimise emissions and maximise carbon uptake: a strategy for long term climate mitigation, recentemente aprovado pelo programa Horizonte Europa da Comissão Europeia.

A ideia é “estudar o papel das turfeiras como sumidouros de carbono e promover a sua conservação, restauro e gestão sustentável”, explicou Ana Isabel Mendes, investigadora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora, a coordenar na academia eborense o projeto REWET.

O Paul da Gouxa, com a sua turfeira, “constitui uma área importante para a conservação, destacando-se não só no contexto nacional mas também no contexto europeu”, acrescentou Ana Isabel Mendes.

A instituição vai dar o apoio técnico e científico para a criação e classificação do Paul da Gouxa como Reserva Natural Local e para a criação de um Laboratório Aberto (Open Lab, em Inglês). Este laboratório envolve ainda o município de Alpiarça, a Quinta da Atela (ambos proprietários dos terrenos onde se quer criar a Reserva Natural) e diversos actores regionais entre eles organizações não governamentais, agricultores e decisores políticos.

Segundo a Universidade de Évora, este Paul é “considerado um exemplo único e bastante raro no contexto europeu”. Isto porque é “uma turfeira de baixa altitude onde a turfa chega a atingir uma profundidade de cerca de nove metros que se estende por uma área de cerca de 90 hectares (com diferentes Iso espessuras), o que corresponde a acumulação de carbono durante cerca de 9.000 anos”.

De acordo com a câmara de Alpiarça, a turfeira tem “uma dimensão de mais de 50ha, com isoespessura de turfa que varia entre os 0,8 a 8,5 metros de espessura, sendo o valor médio de 5 metros”.

“No decorrer deste projeto é expectável que se inicie o desenvolvimento do plano de ordenamento da reserva e se desenvolvam uma série de ações de restauro de habitat, capacitação e educação ambiental” avançou Ana Isabel Mendes.

Paralelamente irão estudar-se alternativas ao uso do solo em talhões delimitados, de modo a que se tenha uma ideia clara das mais valias na produção de arroz, produção de caniço e utilização como reserva natural. Além disso serão avaliados os vários serviços de ecossistemas em cada um destes contextos.

O REWET, liderado pela empresa IDENER, tem 19 parceiros europeus oriundos de Espanha, França, Holanda, Áustria, Finlândia, Estónia, Bélgica, Itália, Dinamarca e Portugal, e de entre os quais se destacam a Wetlands International, a UNESCO ou o Stichting Wageningen Research. Nele participam investigadores, empresas, entidades sem fins lucrativos, parceiros locais e regionais localizados em diversas reservas naturais de importância internacional e uma organização internacional.

Dos mais de seis milhões e meio de euros financiados pelo Horizonte Europa, 305.875€ são destinados ao financiamento da equipa da Universidade de Évora.


Saiba mais.

Descubra mais informações aqui sobre o Paul da Gouxa e a importância da sua turfeira.


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.