Conheça os maiores polinizadores de Portugal

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Os polinizadores são o alvo da nova rede nacional polli.NET, lançada a 5 de Junho. Sónia Ferreira, coordenadora do projecto Polinizadores de Portugal, e Luís Pascoal da Silva, investigador do CIBIO-InBIO ajudam-nos a descobrir quais os maiores polinizadores do nosso país.

A maioria dos polinizadores em Portugal são insectos, desde as abelhas e borboletas aos escaravelhos, moscas-das-flores, formigas e vespas. Mas, além dos insectos, existem aves e répteis que também polinizam plantas.

Estes são os maiores polinizadores do nosso país:

Felosa-comum (Phylloscopus collybita) e toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla):

Toutinegra-de-barrete-preto. Foto: Bernard Dupont/WikiCommons

“Há diversas espécies de aves que são polinizadores em Portugal”, diz-nos Luís Pascoal da Silva, investigador do CIBIO-InBIO. “No entanto, é preciso realçar que trabalhos de polinização com aves na Europa são muitos escassos, apesar de haver alguns estudos que comprovam a polinização de algumas plantas por aves na Europa.”

De acordo com este investigador, “as aves que têm maior potencial para polinizar em Portugal são diversas espécies de felosas, chapins e as estrelinhas”. “Tendo em conta as abundâncias das diversas espécies, principalmente no final do Inverno e início da Primavera, as duas espécies que são provavelmente mais importantes na polinização (por aves) em Portugal são a toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla) e a felosa-comum (Phylloscopus collybita).”

Há seis plantas (confirmadas) que são polinizadas por aves na Europa: Anagyris foetida, Brassica oleraceaScrophularia grandifloraScrophularia sambucifoliaScrophularia trifoliata (esta espécie não ocorre em Portugal) e Fritillaria imperialis (que também não ocorre em Portugal, mas ocorrem outras plantas do mesmo género). “Há diversas outras plantas que provavelmente são polinizadas por aves em Portugal e um pouco por toda a Europa, principalmente plantas que tenham flores durante o Inverno e o início da Primavera, altura em que as aves se alimentam mais frequentemente em flores. Entre estas plantas estão muitas espécies não nativas, como por exemplo o eucalipto (Eucalyptus globulus).”

Lagartixa-da-Madeira (Teira dugesii):

Foto: H. U. Kuenle/WikiCommons

Este réptil será o grande campeão dos nossos polinizadores. Este “simpático réptil pode alcançar os 200 mm”, segundo Sónia Ferreira. É uma espécie endémica dos arquipélagos da Madeira e das Selvagens que, apesar de se alimentar de insectos, também visita as flores das plantas Echium nervosum, Musschia aurea e de Aloe arborescens para recolher o seu néctar. Ao passarem para outras plantas levam consigo grãos de pólen, ajudando assim na polinização.

Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius):

Foto: Gail Hampshire/WikiCommons

A bonita borboleta-do-medronheiro, que podemos ver em voo entre Março e Outubro, é uma das maiores borboletas diurnas polinizadoras, podendo atingir os 80 mm. É, na verdade, a borboleta diurna com maior envergadura da Europa e ocorre em quase todo o território português, em especial na região algarvia e na área de Lisboa. Alimenta-se apenas de uma planta, o medronheiro (Arbutus unedo).

Borboleta esfinge-colibri (Macroglossum stellatarum):

Foto: Iron Chris/WikiCommons

A borboleta esfinge-colibri pertence às borboletas noturnas da familia Sphingidae (até 125mm) que são frequentemente confundidas com colibris (que não ocorrem no nosso país). Bate as asas tão rápido que consegue beber o néctar das flores enquanto voa. Esta borboleta, que pode chegar aos 50 mm, voa de dia e é frequentemente avistada a visitar flores de diversas espécies de plantas. A borboleta esfingídeo-de-asas-transparentes (Hemaris fuciformis) não se fica muito atrás, com os seus 48 mm.

Recorde aqui a borboleta esfinge-colibri encontrada pela leitora Patrícia Biscaia Traça e identificada por Eva Monteiro, do Tagis, no âmbito do “Que Espécie é Esta”.

Vespa-mamute (Megascolia maculata):

Vespa-mamute, uma vespa portuguesa que pode ser confundida com a asiática. Foto: Biodasha/Wiki Commons

Dos himenópteros – vespas, abelhas e formigas – a maior espécie polinizadora de Portugal é a vespa-mamute. Este insecto, que pode chegar aos 60mm, é uma das maiores vespas da Europa e muitas vezes pode ser confundida com a vespa asiática. Esta vespa tem o corpo preto brilhante, coberto por uma camada de pêlos. A sua cabeça é amarela no topo e tem quatro zonas amarelas sem pêlos no abdómen. Os adultos alimentam-se de pólen e néctar de várias plantas.

Descubra aqui a importância crucial de saber distinguir as vespas nativas do nosso país da vespa-asiática.

Jaquetões (Cetoniinae):

Foto: Syrio/WikiCommons

“Nos escaravelhos existem várias espécies de Jaquetões (Cetoniinae) que ultrapassam os 20 mm”, explica Sónia Ferreira. Fazem parte desta família as carochas ou carochinhas que, enquanto adultos, se alimentam de pólen, frutas e néctar. Quando se deslocam sobre as flores ajudam à sua polinização, ainda que inadvertidamente.

Estas são apenas algumas das inúmeras espécies das quais as plantas dependem. Mas a verdade é que ainda há muito por descobrir sobre esta relação milenar, na qual plantas e animais se combinam em pares compatíveis numa diversidade de tamanhos e de formas. “As interações entre espécies polinizador-planta ainda precisam de ser estudadas em detalhe em muitos casos”, comenta Sónia Ferreira. “Especialmente no caso das borboletas nocturnas, há um grande desconhecimento da sua importância.”



Saiba mais.

Descubra aqui o que é a polli.NET e o que esta rede vai fazer pelos polinizadores de Portugal.

Como pode ajudar:

Fotografe e submeta os seus registos de insectos – como borboletas, abelhas, escaravelhos, aranhas, abelhões, joaninhas, percevejos, moscas, vespas, formigas e cigarrinhas – no Polinizadores de Portugal, projecto lançado há um ano. Saiba mais aqui.

“Que Espécie é Esta”: explore os grupos de espécies e as centenas de registos de outros leitores da Wilder, uma base de dados que está a crescer desde 2017, e aprenda a identificar os polinizadores que encontrar.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.