Há boas notícias para uma das aves mais raras do mundo

O frango-d’água-d’asa-branca (Sarothrura acyesi) é uma das aves mais raras do mundo, com menos de 250 indivíduos adultos. Pode vir a ser a primeira ave africana com extinção registada. Mas agora tudo pode mudar com esta nova descoberta.

 

Travar a extinção do frango-d’água-d’asa-branca, espécie classificada como Criticamente Em Perigo na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) acaba de ganhar novo fôlego. Afinal, esta ave não nidifica apenas na Etiópia.

 

Frango-d’água-d’asa-branca em Berga, Etiópia, em Agosto de 2015. Foto: Sergey Dereliev

 

Graças a câmaras de foto-armadilhagem, uma equipa da Birdlife descobriu recentemente um local de nidificação na África do Sul. “Tudo aquilo que pensávamos que sabíamos sobre o frango-d’água-d’asa-branca foi abalado”, escreve a Birdlife, em comunicado divulgado no sábado passado.

A descoberta aconteceu na zona húmida de Middelpunt, um local onde já se tinham observado aves não residentes, a alimentar-se. Pela primeira vez, imagens captadas pelas câmaras de foto-armadilhagem revelaram um comportamento intrigante nestas aves, com machos e fêmeas a exibirem as suas penas brancas das asas. “Será que as aves estariam a fazer algo mais além de se alimentarem? Era bom demais para ser verdade. Mas finalmente surgiu a derradeira prova, a imagem de juvenis. Isto mudou tudo”, escreve a Birdlife.

 

A equipa que fez o censo da espécie, depois de confirmar a presença da ave. Foto: Carina Coetzer

 

Neste momento, o frango-d’água-d’asa-branca pode tornar-se na primeira ave com extinção registada no continente africano. Os seus habitats de zonas húmidas estão a ser degradados pelo sobre-pastoreio, incêndios, conversão para agricultura e poluição, explica a organização.

Esta ave só ocorre regularmente na Etiópia e na África do Sul. De Julho a Agosto, nidifica na zona húmida de Berga, na Etiópia. Depois migra cerca 4.000 quilómetros até às zonas húmidas de altitude da África do Sul, onde permanece a alimentar-se de Novembro a Março.

Mas pouco mais se sabe sobre esta espécie. “Um dos maiores problemas é que não é claro como são os seus chamamentos e vocalizações. Isto significa que a espécie tem de ser observada para ser registada”, salienta a Birdlife. Por isso, ao longo dos últimos dois anos, Robin Colyn da Birdlife na África do Sul e o ecologista Alastair Campbell desenvolveram um sistema de câmaras de foto-armadilhagem para fazer o censo do frango-d’água-d’asa-branca.

As câmaras foram colocadas em Middelpunt, na África do Sul. Depois de uma análise às cerca de 400.000 fotografias activadas por musaranhos e outros pequenos mamíferos, a equipa foi surpreendida. Primeiro por um comportamento que implica um batimento de asas ainda nunca visto nesta espécie. Depois, por imagens de crias com apenas alguns dias de vida e de juvenis até quatro semanas. “Na verdade, 125.000 imagens mostram pelo menos três ninhadas e pelo menos duas tentativas de acasalamento.”

 

Fêmea juvenil. Foto: Birdlife África do Sul

 

“Os guias e livros de aves vão ter de ser rescritos!”, comentou Mark Anderson, coordenador da Birdlife na África do Sul. “Temos agora 100% de confirmação que o frango-d’água-d’asa-branca se reproduz em Middelpunt.”

Ainda assim, um novo local de nidificação não se traduz em grandes números. “Ainda não sabemos o que a nossa descoberta representa em termos da conservação da espécie”, salientou Hanneline Smit-Robinson, da mesma organização. “O nosso censo mostrou uma baixa densidade. Por isso, até termos mais dados, continuamos a manter que esta espécie é extremamente rara e, por isso, continua à beira da extinção.”

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.