México vai criar um santuário para os morcegos do país

A Comissão Nacional mexicana de Áreas Naturais Protegidas (CONANP) vai criar o primeiro santuário para morcegos do México em Cueva de la Boca, na região de Nuevo León. Essa gruta alberga uma colónia maternidade para cinco milhões de morcegos.

 

Os morcegos têm um papel fundamental para os ecossistemas no México, salienta a CONANP em comunicado divulgado nesta segunda-feira. Estes mamíferos “são aliados da agricultura e das populações próximas de onde vivem, já que são a solução natural mais eficiente para combater grandes quantidades de insectos considerados pragas agrícolas”.

Os esforços de conservação dos morcegos já permitiram identificar sete grutas prioritárias em todo o país. Aí, “a protecção é fundamental para a sua sobrevivência” e para “garantir os benefícios que todos nós, mexicanos, recebemos destes incompreendidos animais”.

Uma dessas sete grutas é a Cueva de la Boca, no município de Santiago (Nuevo León), 36 quilómetros a Sul da cidade de Monterrey, no Norte do México. Durante o Verão, esta gruta alberga uma colónia maternidade de cinco milhões de morcegos da espécie Tadarida brasiliensis (morcego-brasileiro-da-cauda-livre).

 

 

Esta espécie, que ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o sul da América do Sul, mede cerca de nove centímetros e tem 15 gramas de peso. “É de vital importância no controlo de pragas pois alimenta-se de vários insectos”, explica a CONANP. “Um milhão de morcegos desta espécie chega a ingerir até uma tonelada de insectos por noite.” Além disso, este morcego insectívoro é alimento para outras espécies como os falcões-peregrinos (Falco peregrinus).

Ora, a gruta Cueva de la Boca é a maternidade mais a Sul conhecida para o morcego-brasileiro-da-cauda-livre. Até agora sabe-se que existem outras colónias no Texas e nos estados mexicanos de Coahuila, Chihuahua e Sonora, localizados ainda mais a Norte do México.

Agora, a CONANP – em parceria com o município local e autoridades estatais de Nuevo León e investigadores da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) e com a associação de Ambiente Pronatura Noreste A. C. – vai trabalhar para “garantir a conservação desta gruta prioritária” para assegurar a protecção dos morcegos.

A falta de medidas de protecção e actos de vandalismo têm vindo a ameaçar as colónias de Cueva de la Boca. Mas o comissário Nacional de Áreas Naturais Protegidas, Alejandro del Mazo Maza, revelou esta semana que a conservação dos morcegos no México “será um tema prioritário na agenda de conservação de 2018”.

Actualmente estão registadas 138 espécies diferentes de morcegos para o México. Em Portugal Continental vivem 25 espécies de morcegos. Estima-se que existam no mundo 1.300 espécies, apenas três das quais se alimentam de sangue. “Provavelmente, os morcegos são os animais que sofrem de forma mais injusta por terem uma má imagem”, comentou Rodrigo Medellín, investigador especialista em morcegos do Instituto de Ecologia da UNAM. “Estes animais dão-nos benefícios que afectam as nossas vidas diariamente.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui a maior maternidade em Portugal de morcego-de-ferradura-pequeno.

Ouça as vocalizações dos morcegos-anões numa noite de Verão em Lisboa.

Torne-se um perito em morcegos.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.