Nova tecnologia revela como os animais vêem o mundo

Uma equipa da Universidade de Exter desenvolveu uma nova tecnologia que revela o mundo através dos olhos dos animais. O artigo foi publicado nesta quinta-feira na revista Methods in Ecology and Evolution.

 

A visão das cores varia bastante no reino animal. E pode variar mesmo dentro da mesma espécie. A maioria dos humanos têm olhos sensíveis a três cores: vermelho, verde e azul, o que é mais do que em outros mamíferos, que apenas são sensíveis ao azul e amarelo. É impossível para os humanos imaginar ver o mundo em mais do que nas três cores primárias, mas isto é comum na maioria das aves, répteis, anfíbios e em muitos insectos que vêem o mundo em quatro ou mais cores. Muitos deles conseguem até ver o espectro ultravioleta (UV), um mundo completamente invisível para nós, sem a ajuda de câmaras especiais.

Este software converte fotografias digitais na visão do animal e pode ser utilizado para estudar cores e padrões das espécies de fauna e flora. Os investigadores acreditam que esta tecnologia pode ajudar a sabermos mais sobre a comunicação entre animais, a camuflagem e técnicas de predação.

A equipa já tem utilizado o software para estudar a alteração das cores em caranguejos e a camuflagem dos noitibós para evitar serem descobertos por predadores.

“Ver o mundo através dos olhos de outro animal tornou-se agora muito mais fácil”, comentou Jolyon Troscianko, do Centro para a Ecologia e Conservação na Universidade de Exter, no Sudoeste de Inglaterra.

“As câmaras digitais são ferramentas poderosas para medir as cores e os padrões na natureza. Mas até agora tem sido difícil usar as fotografias digitais para fazer medições rigorosas da cor”, acrescentou Troscianko, em comunicado. “O nosso software permite-nos calibrar as imagens e convertê-las para a visão do animal. Assim podemos medir como algo pode parecer se for visto por humanos e não-humanos.”

Nestas imagens, dois lagartos de Tenerife (Gallotia galloti) estão a apanhar Sol.

 

 

A imagem da esquerda tem as cores visíveis para os nossos olhos e, apesar de o macho mais em cima ser mais colorido do que a fêmea, continua bem camuflado entre a folhagem. Contudo, os seus azuis acinzentados são muito mais visíveis para a fêmea lagarto do que para nós, como o mostra a imagem da direita, com uma cor UV falsa. Isto mostra como as imagens podem ser usadas como sinais privados em algumas espécies, onde as pressões evolutivas para uma sinalização sexual competem com a necessidade de escapar de predadores.

Os investigadores dão outro exemplo.

 

 

Aqui, a imagem da esquerda dá-nos as flores Echium angustifolium, da família da soagem, como nós as vemos; a da direita é como as abelhas as vêem. Para nós, as flores são de um lilás mais ou menos uniforme, mas as abelhas conseguem ver duas zonas UV no topo do flor.

As flores, muitas vezes, parecem especialmente fascinantes vistas em UV porque estão a comunicar para atrair polinizadores que conseguem ver em UV, como as abelhas. Este espectro também é muito importante para as aves, répteis e insectos nas suas estratégias de atração de parceiros.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.