borboleta pousada num ramo
Foto: Joana Bougard/Wilder

Secas severas podem fazer desaparecer muitas borboletas até 2050

Uma equipa de cientistas estudou os efeitos das secas nas borboletas e alerta agora para a extinção até 2050 das espécies mais sensíveis à seca no Reino Unido. O artigo foi publicado hoje na revista Nature Climate Change.

 

As seis espécies mais sensíveis, identificadas pelos cientistas, são: borboleta-malhadinha (Pararge aegeria), borboleta-grande-capitão (Ochlodes sylvanus), borboleta-branca-da-couve (Pieris brassicae), borboleta-pequena-da-couve (Pieris rapae), borboleta-do-nabo (Pieris napi) e a Aphantopus hyperantus. Todas têm uma baixa probabilidade de sobreviver até 2050, mesmo num cenário com emissões de gases com efeito de estufa mais favoráveis.

“Os resultados são preocupantes”, diz o coordenador do estudo, Tom Oliver, do Centro para a Ecologia e Hidrologia do Reino Unido. “Até ter começado este estudo não tinha percebido bem a magnitude e os impactos potenciais das alterações climáticas”, acrescentou. Os investigadores assumiram que as borboletas não terão tempo para evoluírem no sentido de serem mais resistentes aos episódios de seca, dado que as suas populações já são pequenas. “A evolução teria de ser muito rápida.”

O estudo combinou dados recolhidos em 129 locais para 28 espécies, monitorizadas no âmbito do projecto UK Butterfly Monitoring Scheme, e os dados de temperaturas e precipitação do país.

A equipa – que contou com aquele centro, com a Butterfly Conservation, a Natural England e a Universidade de Exeter – escolheu as borboletas porque são um dos grupos de espécies mais estudados e com mais registos anuais de abundância. Mas há muitos outros grupos de animais que podem ser afectados de igual maneira pelas alterações do clima. Como as aves, besouros, borboletas nocturnas e libélulas, por exemplo.

“Considerámos a resposta média no Reino Unido. As perdas serão mais graves em zonas mais secas, com usos mais intensivos do solo; por outro lado, as áreas mais húmidas e menos fragmentadas vão servir de refúgios”, acrescentou Tom Oliver.

Para Mike Morecroft, co-autor do artigo e membro da Natural England, há boas e más notícias em tudo isto. “As boas notícias é que podemos aumentar a resiliência das espécies às alterações climáticas se melhorarmos o nosso ambiente natural, especialmente se aumentarmos as áreas de habitat e estamos a trabalhar nisso. Contudo, esta abordagem só vai funcionar se as alterações climáticas forem limitadas através da redução das emissões de gases com efeito de estufa”, comentou.

Na verdade, os investigadores defendem no artigo que uma redução substancial das emissões de gases com efeito de estufa e uma melhor gestão das paisagens, em especial para evitar a fragmentação dos habitats, vai melhor em muito as hipóteses destas borboletas até, pelo menos, 2100.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.