Spea receia impactos da exploração de petróleo nos golfinhos e aves do Algarve

A área destinada à exploração de petróleo em alto mar, ao largo de Aljezur, fica junto a uma elevada concentração de golfinhos e a uma rota migratória usada por aves marinhas, uma delas ameaçada de extinção, alertou hoje a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

 

O Governo autorizou o prolongamento por um ano dos direitos de prospecção de petróleo e gás natural ao largo de Aljezur, na costa vicentina, da ENI/Galp, noticiou o jornal Expresso no sábado. A decisão já foi criticada pela Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP) e pela Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Hoje, a Spea alertou para os perigos para a biodiversidade marinha desta actividade. Em comunicado enviado à Wilder, a Spea diz estar preocupada “pelo facto de a área destinada à exploração de petróleo em alto mar, a cerca de 46,5 kilometros ao largo de Aljezur, ser adjacente à Zona de Proteção Especial Costa Sudoeste (ZPE)”.

A organização sublinha que nessa área existe uma elevada concentração de boto (Phocoena phocoena) e de roaz (Tursiops truncatus). “Os cetáceos são conhecidos por serem altamente sensíveis ao ruído no mar, por exemplo resultante da perfuração, dado que esta atividade interfere com a sua forma de comunicação e orientação, a eco-localização.

Além disso, “há uma rota migratória que atravessa esta área, importante para a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), espécie ameaçada de extinção, e para o alcatraz (Morus bassanus)”.

A exploração petrolífera ao largo de Aljezur tem chamado a atenção de conservacionistas ingleses. Isto porque há espécies de aves que nidificam no Reino Unido e que usam a rota migratória que passa ao largo de Aljezur.

Por exemplo, a empresa britânica para observação de vida selvagem, Honeyguide Wildlife Holidays, fez um donativo de 500 libras esterlinas (cerca de 550 euros) à Spea, entidade que faz parte da PALP, revelou a organização. O financiamento será investido na campanha contra a exploração de petróleo.

“Os riscos de um derrame acidental são óbvios e extremamente preocupantes, tanto para a vida selvagem no mar como para a costa algarvia, para as pessoas e para as empresas turísticas que dependem dos tesouros naturais desta costa”, comentou Domingos Leitão, diretor executivo da Spea.

De facto, a Spea contesta o facto de que “este processo não foi sujeito a avaliação de impacto ambiental nem a consulta pública” e considera que “insistir na dependência de combustíveis fósseis é dar um passo atrás, numa altura em que o investimento tem de ser dirigido ao aumento do uso de fontes de energia mais sustentáveis, tais como a energia solar”.

“Tivemos a oportunidade de presenciar os prejuízos para a vida selvagem e para as comunidades costeiras do Reino Unido, resultantes da poluição por hidrocarbonetos, e estamos contentes em contribuir com o nosso apoio para salvaguardar o ambiente em Portugal”, comentou, em comunicado, Chris Durdin, responsável pela Honeyguide.

A Spea já recebeu um total de 6.252 libras de donativos daquela empresa desde a primeira visita de um grupo da Honeyguide a Portugal continental, em 2005. No geral, as visitas da Honeyguide já contribuíram com 119.322 libras para fins de proteção da natureza em vários países.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.