Foto: Joana Bourgard

UE adia decisão sobre herbicida glifosato

Os Estados-membros da União Europeia (UE) não conseguiram chegar hoje a acordo sobre a renovação por mais 10 anos da licença para o químico glifosato, um dos componentes do herbicida Roundup.

 

A decisão era esperada para hoje mas foi adiada sem que se conheça ainda a nova data, avançou esta tarde a agência de notícias Reuters. A actual licença expira no final deste ano.

Neste momento, a Europa debate o que fazer com o glifosato, um ingrediente-chave do herbicida da Monsanto Roundup. Em 2015, a Organização Mundial de Saúde concluiu que este químico poderá causar cancro. Mas esta conclusão foi negada por outros estudos da Agência Europeia para a Segurança Alimentar e por organismos públicos de países como o Canadá e Japão.

No mês passado, o The Guardian relatou que a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (AESA) fez uma recomendação, considerando o glifosato seguro para utilização pública, com base num relatório constituído por cópias e colagens (“copy and paste”) de análises de um estudo da Monsanto.

A juntar às implicações para a saúde humana, existem estudos que denunciam os perigos que este químico pode causar nos insectos polinizadores, incluindo nas abelhas melíferas.

Ontem, nas vésperas da votação da Comissão Europeia, os deputados do Parlamento Europeu pediram que Bruxelas não avance com os 10 anos de extensão da licença. Numa resolução não vinculativa, defendem restrições ao uso do químico a partir de 2018 e uma proibição total até 2022. A votação reuniu 355 votos a favor da proibição do glifosato, 204 contra e 111 abstenções.

O pedido pela proibição do glifosato surge também dos cidadãos. Uma nova sondagem independente divulgada ontem pelo SumOfUs, um grupo de consumidores global, e pelo movimento de cidadãos WeMove.EU, mostrou que a maioria dos cidadãos de Portugal, Alemanha, França, Itália e Grécia apoiam a proibição imediata do glifosato.

De acordo com a sondagem financiada através de crowdfunding por apoiantes das bases da Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE), 80% dos alemães, 79% dos franceses, 84% dos italianos, 77% dos portugueses e 81% dos cidadãos gregos são contra a utilização do glifosato e a favor de uma proibição imediata. “Os europeus estão fartos do glifosato e disseram isso de forma clara e inequívoca”, comentou
David Norton, do SumOfUs. “Agora, os Governos devem defender com firmeza a agricultura progressiva e a segurança pública. Chega de extensões de licenças da UE ou meias medidas para acalmar os gigantes da indústria agroquímica.”

Esta sondagem foi realizada online pela INSA-Consulere GmbH, entre os dias 16 e 22 de Outubro de 2017, com amostras de 1.000 pessoas por país e uma margem de erro de, aproximadamente, 3%. Participaram na sondagem apenas pessoas com idade igual ou superior a 18 anos, tendo os resultados sido estatisticamente ponderados com base na idade e no sexo, a fim de se representar a distribuição por idades e sexos da população com idade igual ou superior a 18 anos de cada país.

No início do ano, mais de 100 organizações lançaram a Iniciativa Europeia de Cidadãos contra o glifosato. Hoje esta petição tem mais de um milhão de assinaturas. O objectivo é banir o glifosato do espaço europeu, reformar o processo de aprovação de pesticidas no âmbito da UE e assegurar metas obrigatórias para a redução destes produtos nos países comunitários.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.