Descobrem nova espécie de aranha-camelo na Península Ibérica

Duzentos anos depois da descrição da aranha-camelo Gluvia dorsalis, uma equipa de investigadores descreveu uma segunda espécie do mesmo género, a Gluvia brunnea, para a Península Ibérica.

Um estudo feito pela Estación Experimental de Zonas Áridas (EEZA-CSIC), do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC) espanhol, em colaboração com a Universidad de Almería (UAL) descreveu uma nova espécie de aranha na Península Ibérica: Gluvia brunnea sp. nov. A descrição foi agora publicada na revista Insects.

Aranha-camelo Gluvia brunnea. Foto: Eva de Mas

Até agora apenas foi encontrada no Sudeste de Espanha.

“A descrição morfológica está baseada em análises moleculares e estatísticas, que apoiam de forma inquestionável o seu estatuto específico”, afirmou, em comunicado, Cristian Pertegal, investigador da EEZA e primeiro autor do estudo.

“Foi impressionante ver como uma análise molecular relativamente simples apontou perfeitamente que se tratava de uma nova espécie”, comentou Eva de Mas, co-autora do estudo.

O interesse científico por estes aracnídeos tem crescido nos últimos anos. A sua taxonomia sempre tem sido um desafio para a comunidade científica, especialmente por causa da falta de consenso entre os especialistas sobre quais as características morfológicas relevantes deste grupo.

Actualmente, segundo o Catálogo Mundial de Solifugae, existem 15 famílias, 144 géneros e 1.209 espécies. No caso da Península Ibérica, até agora apenas se conhecia uma única espécie endémica: a Gluvia dorsalis, descrita para a Ciência em 1817 pelo zoologista francês Pierre André Latreille. E, por exemplo, observada por um leitor da Wilder em Castelo Branco, em Julho de 2023.

“Os exemplares da nova espécie foram comparados com os exemplares da única espécie conhecida, G. dorsalis, originários de outras localidades de clima mediterrâneo na Península Ibérica”, explicou Jordi Moya, investigador do CSIC na EEZA e investigador principal do projecto que desenvolveu o estudo.

Os espécimes analisados da nova espécie provêem de diferentes métodos de amostragem, como capturas directas ou armadilhas, usadas em três estudos diferentes, um sobre o efeito dos arbustos como refúgios de fauna, outro sobre o efeito dos incêndios e outro sobre a diversidade faunística dos interstícios do solo.

“Foi uma sorte encontrar tantos exemplares de Gluvia brunnea na colecção do Centro de Investigación de Colecciones Científicas de la Universidad de Almería (CECOUAL) procedentes de projectos anteriores”, comentou Pablo Barranco, co-autor do trabalho e professor da UAL.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.