Cientistas descobrem como ajudar enguias a evitar barragens

Os cientistas descobriram formas para fazer com que as enguias-europeias (Anguilla anguilla), espécie Em Perigo de extinção em Portugal, evitem as barragens durante as suas migrações para o oceano.

 

Nas últimas décadas, a enguia tem registado um declínio dramático e o número de juvenis que conseguem regressar aos rios desceu mais de 90%. Sobre-pesca, poluição e alterações climáticas estão entre as causas desta situação. Mas uma das principais razões é a construção de infra-estruturas nos rios, como as barragens, que podem ferir ou matar as enguias adultas nas suas migrações para o oceano e, eventualmente, para o Mar dos Sargaços (no Atlântico Oeste) onde desovam.

Uma equipa internacional de cientistas, coordenada pela Universidade de Southampton e da qual faz parte a Agência Europeia do Ambiente, publicou um artigo na revista Proceedings of the Royal Society B, onde demonstra o potencial de utilizar os vários gradientes de aceleração da água, comuns em muitos tipos de barragens, para influenciar o comportamento das enguias e fazer com que elas evitem os perigos.

Devido aos seus corpos esguios, as enguias facilmente entram nas turbinas, arriscando-se a ser feridas, ou a morrer, pelas lâminas rotativas.

Os investigadores utilizaram telemetria acústica para monitorizar 40 enguias à medida que se aproximavam de uma barragem, onde a velocidade dos fluxos de água era manipulada. Concluíram que as enguias evitam mais as barragens quando a aceleração da velocidade da água é maior. Com velocidades normais, as enguias têm um comportamento exploratório antes de entrarem em contacto com as estruturas. Mas com velocidades mais elevadas, as enguias nadam na direcção oposta para escapar rapidamente.

“Esta investigação interdisciplinar pode dar a esperança de que podem ser desenvolvidos condicionantes de comportamento para que as enguias evitem os perigos nas suas migrações”, comentou Paul Kemp, coordenador do projecto e investigador no Centro Internacional para a Investigação em Ecohidráulicas na Universidade de Southampton.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.