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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Portugal vai ter um novo Livro Vermelho dos Peixes Marinhos, 30 anos depois

Começa ainda este ano a produção do novo Livro Vermelho dos Peixes Marinhos de Portugal, que se prevê ficar pronto em 2023. Este trabalho visa aumentar e atualizar o conhecimento sobre as espécies que ocorrem no mar português. O actual Livro Vermelho tem 30 anos.

O novo “Livro Vermelho dos Peixes Marinhos de Portugal” vai ser feito pelo Oceanário de Lisboa, Fundação Oceano Azul, em colaboração com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.

O objectivo é “aumentar e atualizar o conhecimento sobre as espécies que ocorrem no mar português”, explica o Oceanário de Lisboa em comunicado enviado à Wilder. Este trabalho irá fundamentar “as decisões necessárias à melhor e maior conservação do oceano e que há 30 anos não é atualizada”.

Em Portugal, o único “Livro Vermelho dos Peixes Marinhos de Portugal” foi elaborado em 1992/3, pelo ICNF, na altura designado Instituto de Conservação da Natureza (ICN).

Para o início dos trabalhos foi determinante o apoio técnico e científico da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), bem como do ICNF, a par do apoio da CML. Através de um Protocolo assinado em Julho, a CML assegurou um financiamento de 100.000 euros para apoiar este projeto, montante que permitirá avançar já com a investigação e recolha de informação sobre diversas espécies. José Sá Fernandes, Vereador do Pelouro do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da Câmara Municipal de Lisboa, sublinha que «este é o modo de Lisboa dar um contributo e um impulso à investigação científica e à relação umbilical que sempre teve com o mar».

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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Esta revisão é considerada “urgente”, “sobretudo num momento em que o mundo enfrenta uma crise climática e de extinção de espécies, e que para preservar a biodiversidade e a vida marinha se torna crítico saber quais os níveis de ameaça a que cada espécie está sujeita”.

“É crítico para a preservação da biodiversidade assegurar o conhecimento científico que possa fundamentar as decisões que são necessárias à proteção das espécies marinhas”, comentou João Falcato, CEO do Oceanário de Lisboa. “Por isso, é muito importante o Oceanário poder continuar a contribuir de forma significativa para a conservação do Oceano.”

Segundo João Falcato, “o apoio dado pela Câmara Municipal de Lisboa foi essencial, nomeadamente nesta altura de maior dificuldade financeira, para podermos dar início a este projeto crítico e ambicioso, ao qual esperamos que mais entidades venham a juntar-se”.

Para este passo estratégico na promoção da conservação do oceano, foi determinante também o trabalho que tem sido feito no Oceanário de Lisboa, desde 2018, em parceria com a UICN, através da integração de um Species Survival Officer na sua equipa. Como resultado dessa colaboração, das cerca de 3.263 espécies marinhas avaliadas nos últimos três anos, o Oceanário de Lisboa já contribuiu de forma relevante para a identificação de mais de 700 espécies, o que representa cerca de 20% das espécies marinhas avaliadas internacionalmente.

A Lista Vermelha da UICN agrega a informação científica sobre risco de extinção de espécies, constituindo o maior e mais completo repositório de informação mundial sobre o tema. Em termos globais, estima-se que existam cerca de 8.7 milhões de espécies no nosso planeta, das quais já foram descritas mais de 1.2 milhões, a grande maioria terrestre. Contudo, somente 138.374 espécies foram avaliadas a nível global, das quais apenas 16.921 são espécies marinhas.

Hoje, só 3% do oceano está totalmente protegido; a meta é chegar a 2030 com 30%. Em Portugal existem 72 áreas marinhas protegidas, como o Parque Marinho Professor Luiz Saldanha (no Parque Natural da Arrábida), a Reserva Natural dos Ilhéus das Formigas nos Açores ou a Reserva Natural das Ilhas Desertas, na Madeira. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.