Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay

Leitores: é normal um ouriço-cacheiro não hibernar?

O leitor Jim O’Connell contactou a Wilder para saber se o ouriço que os visita quase todas as noites num parque de campismo do Algarve não deveria estar a hibernar nesta estação do ano. Vera Marques e Ricardo Brandão respondem.

“Estamos num parque de campismo no Algarve. Um ouriço-cacheiro vem aqui perto de nós quase todas as noites. Temos-lhe deixado alguma comida de gato. Mas não deveria estar a hibernar nesta altura do ano? Quaisquer dicas serão bem-vindas”, escreveu o leitor à Wilder.

Segundo Ricardo Brandão, director veterinário do CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, instalado em Gouveia, “é normal” haver ouriços que não estão a hibernar no Algarve. “As temperaturas são suficientemente confortáveis nessa região para os ouriços não terem que hibernar.”

Vera Marques, do RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, centro localizado na Quinta de Marim, em Olhão, confirma. “Desde que haja disponibilidade de alimento, estes animais podem manter a sua actividade normal. E no Algarve isto acontece regularmente. No RIAS recebemos ouriços em qualquer época do ano”.

Quanto à alimentação, a responsável salienta que “é proibido alimentar fauna selvagem. Sabemos que apesar de termos esse instinto de ajudar, não deverá ser feito. Estes animais terão que procurar o seu próprio alimento (que inclui maioritariamente insetos, mas também caracóis, minhocas, aranhas e fruta) como qualquer animal selvagem”.

Ricardo Brandão acrescenta que, “de uma forma geral, dar alimentação de forma artificial a animais selvagens não é correcto e pode até colocar os animais em risco. Deve-se privilegiar sempre a criação de fontes de alimentação natural, como sebes e zonas arbustivas com espécies autóctones que produzam bagas, pequenos bosques e, claro, pequenos pomares e hortas ecológicas”.

O ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) é um mamífero da Ordem Insectivora bastante comum e nativo na Europa (e Península Ibérica).

Segundo o Atlas dos Mamíferos de Portugal, esta espécie “tem uma distribuição ampla em Portugal continental, com maior incidência de registos nas quadrículas da metade sul”.

Ocorre em paisagens com arbustos e sebes, frequentemente em habitats rurais ou semi-urbanos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.