Flamingo (Phoenicopterus roseus). Foto: José Frade

Aves do mês: o que ver em Setembro

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Cinco aves a não perder em Setembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Setembro é o mês das migrações por excelência. Muitas aves, vindas de latitudes mais elevadas, aparecem por cá, umas para passar o Inverno e outras a caminho de África. Aproveite este mês para procurar algumas aves que são mais fáceis de ver nesta época do ano.

Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca):

Papa-moscas-preto. Foto: José Frade

O que está a fazer em Setembro: De passagem para África, vindos de outros países europeus, milhares de papa-moscas pretos param em Portugal durante o mês de Setembro para se abastecerem. Este é, sem dúvida, o melhor mês para observar esta espécie.

Trata-se de um pequeno passeriforme insectívoro que se caracteriza pela plumagem castanha por cima e branca por baixo, sendo ainda visível uma mancha branca na asa fechada, com orlas brancas nas terciárias. O bico é fino.

O papa-moscas-preto pousa geralmente num ramo de árvore ou noutro poiso estrategicamente escolhido, a partir de onde observa atentamente as imediações. Quando uma presa se aproxima, lança-se sobre ela e captura-a em voo, após o que regressa ao mesmo poiso ou a outro diferente. Enquanto está no poiso, efectua com frequência um movimento de levantar as asas (uma delas mais que a outra), como se de um ‘tique’ nervoso se tratasse.

Esta espécie é muito comum no nosso país durante a migração outonal, que se estende desde finais de Julho a princípios de Novembro, mas é no mês de Setembro que os papa-moscas-pretos aparecem literalmente ’por todo o lado‘, até em pequenos parques ou jardins urbanos.

Onde ver: em qualquer local com árvores, de norte a sul do país. 

Flamingo (Phoenicopterus roseus):

Flamingos. Foto: José Frade

O que está a fazer em Setembro: Os flamingos podem ser vistos em Portugal durante todo o ano, mas é no final do Verão e no início do Outono que a espécie é avistada com mais frequência. Assim, esta é uma boa altura para tentar procurar estas belas aves.

Com o seu tom rosado, as longas patas e o longo pescoço, o flamingo é uma espécie inconfundível. Os adultos têm uma plumagem essencialmente cor-de-rosa, com tonalidades mais intensas nas asas, enquanto os juvenis são mais acinzentados. Esta espécie tem um bico espesso e encurvado, que usa para perscrutar a água e filtrar os pequenos organismos de que se alimenta.

Os flamingos surgem geralmente em bandos numerosos, podendo ser vistos em zonas húmidas costeiras, nomeadamente estuários, lagoas e salinas. Ocasionalmente também aparecem em albufeiras, no interior do país.

Há 50 anos o flamingo era considerado muito raro em Portugal, mas a partir da década de 1980 passou a ser visto com mais regularidade e, ao longo das décadas seguintes, houve várias tentativas isoladas de nidificação, que culminaram com um caso de reprodução bem-sucedido, na zona de Castro Marim, em 2021.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Mondego, Castro Marim.

Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula):

Borrelho-grande-de-coleira. Foto: José Frade

O que está a fazer em Setembro: Embora muitos borrelhos desta espécie fiquem por cá durante o Inverno, há uma massiva passagem em direcção a África; assim, muitas das aves que por cá podem ser vistas este mês estão apenas a fazer uma paragem e abalarão em breve, não ficando para o Inverno.

Este borrelho é uma pequena limícola de tons castanhos e bico curto. Os adultos em plumagem nupcial apresentam a coleira preta no peito, bem como as patas e a base do bico cor de laranja. Os juvenis e os adultos em plumagem de Inverno podem apresentar a coleira incompleta. Em voo, é visível uma risca alar branca.

Os seus locais preferidos são as zonas de lamas entre-marés, nomeadamente em estuários, que frequentam durante a baixa-mar, enquanto procuram os pequenos invertebrados, que lhes servem de alimento. Quando a maré enche, deslocam-se para os chamados refúgios de preia-mar – estes situam-se, muitas vezes, em salinas, mas, na falta destas, podem ficar em ilhotas de sapal ou bancos de areia. Durante as migrações, a espécie também aparece no interior do país, geralmente nas margens de albufeiras.

Durante o Outono, estes borrelhos podem juntar-se em bandos muito numerosos, por vezes em conjunto com outras espécies de limícolas, nomeadamente tarambolas, pilritos ou rolas-do-mar.

Onde ver: ilha da Morraceira (Figueira da Foz), sítio das Hortas (Alcochete), salinas de Olhão.

Cagarra (Calonectris  borealis):

Cagarra. Foto: José Frade

O que está a fazer em Setembro: A época de nidificação chegou ao fim e muitas cagarras preparam-se para partir em direcção às regiões de invernada, situadas mais a sul. No entanto, em Setembro ainda podem ser vistas em bons números em frente ao litoral português.

A cagarra, também chamada pardela-de-bico-amarelo, é a ave procelariiforme mais comum nas águas portuguesas. Identifica-se pelo tamanho relativamente grande, pelo bico amarelo, pelas asas castanhas por cima e brancas bordeadas a castanho por baixo e ainda pelo voo característico, com as asas formando um arco.

Tal como é habitual nas aves marinhas, esta espécie prefere nidificar em ilhas e ilhéus. Junto ao continente a única colónia situa-se no arquipélago das Berlengas, onde a população deverá contar com algumas centenas de casais. No entanto, é na Madeira, nas Selvagens e, principalmente, nos Açores, que se encontra a maioria da população – neste último caso deverá superar os cem mil casais reprodutores. Geralmente as cagarras passam o dia no mar, voando baixo sobre as ondas, ou então pousadas em bandos, formando ‘jangadas’.

A taxonomia desta espécie foi recentemente revista, tendo as populações do Atlântico (Calonectris borealis) sido separadas das do Mediterrâneo (Calonectris diomedea). Estas últimas aparecem, por vezes, ao largo do Algarve, mas a identificação nem sempre é fácil.

Onde ver: cabo Raso, travessia Madeira – Porto Santo, águas dos Açores.

Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe):

Chasco-cinzento. Foto: José Frade

O que está a fazer em Setembro: Este é mais um passeriforme que passa pelo nosso país em números elevados durante a sua migração outonal, podendo ser visto com facilidade em todo o tipo de locais abertos, incluindo terrenos lavrados ou incultos, baldios, dunas ou salinas.

Com um tamanho intermédio entre um pisco e um tordo, este chasco identifica-se pela cauda branca com um «T» preto, que é bem visível em voo. Quando em plumagem nupcial, o macho tem o dorso cinzento e a máscara preta, mas nesta altura do ano adopta tons mais acastanhados, semelhantes aos da fêmea adulta.

Em Portugal pode ser encontrado a nidificar nas terras altas do norte e do centro, geralmente acima dos 800 metros de altitude. Mas é no Outono que a espécie se torna mais abundante no país, devido à presença de um grande número de migradores, que por aqui se detêm uns dias antes de seguirem viagem. Estas aves pousam frequentemente no chão, saltitando e adoptando uma postura erecta, mas também gostam de se empoleirar em postes.

O chasco-cinzento nidifica por toda a Europa, numa grande parte da Ásia, no Alasca, no nordeste do Canadá e na Gronelândia. Apesar da sua vastíssima área de repartição, toda a população desta espécie inverna na África subsariana – incluindo as aves que nidificam no Canadá e na Gronelândia, que assim atravessam o Atlântico, até chegarem às zonas de invernada.

Onde ver: Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, cabo Espichel, península de Sagres.


Agora é a sua vez.

Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!