Que espécie é esta: poliqueta Glycera tridactyla

A leitora Susana Amaral fotografou este animal na praia de Altura, Algarve, a 23 de Agosto e pediu para saber a espécie. Roberto Martins responde.

“Vi a vossa página e recordei-me que no dia 23 de agosto, na praia de Altura (Algarve), encontrámos o animal da foto em anexo. Deste modo, gostaria de saber a que espécie pertence”, escreveu a leitora à Wilder. 

Tratar-se-á da poliqueta Glycera tridactyla.

Espécie identificada e texto por: Roberto Martins, biólogo marinho e investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, da Universidade de Aveiro.

Seguramente é um poliqueta. Se ampliarmos a imagem (apesar de não se conseguir ampliar muito), vêm-se perfeitamente os parápodes laterais.

Estou quase seguro que se trata de uma Glycera tridactyla.

Os organismos deste género caraterizam-se por ter uma epiderme rosada muito pálida destacando-se na zona mediana uma linha vermelha que corresponde, efetivamente, a um vaso sanguíneo onde passa fluído com hemoglobinas, sendo muitas vezes conhecido por minhocas-sangue ou minhoca borracheira na gíria dos mariscadores que as usam como isco vivo, sobretudo para a pesca da dourada.

Estes animais são carnívoros, usando para o efeito uma tromba retrátil de grandes dimensões com quatro mandíbulas quitinosas pretas, quando pretendem atacar uma presa.

Estes organismos vivem, sobretudo, em zonas arenosas com teor variável de partículas finas, pelo que um contacto inadvertido com um ser humano pode resultar numa mordidela com alguma dor.

Os animais podem ter algumas dezenas de centímetros (regra geral inferior a três dezenas).

O local onde foi encontrado e o tamanho do verme marinho parecem validar a identidade da espécie. No entanto, na costa portuguesa ocorrem numerosas espécies do género Glycera, pelo que a validação do nome da espécie deste anelídeo poliqueta requer sempre uma análise morfológica detalhada, preferencialmente num laboratório equipado com lupa binocular e microscópio.


Agora é a sua vez.

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Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.