macho de sisão no meio da vegetação
Macho de sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

Agência Europeia alerta para perda “alarmante” da biodiversidade

Novo Relatório sobre o estado do ambiente da Agência Europeia do Ambiente, divulgado hoje, defende “medidas urgentes” até 2030. A falta da protecção da biodiversidade é a maior falha.

O relatório “O Ambiente na Europa: estado e perspectivas 2020 (SOER 2020)” – a avaliação ambiental mais exaustiva alguma vez realizada na Europa – alerta que “a Europa enfrenta desafios ambientais de escala e urgência sem precedentes”. 

Este relatório, produzido pela Agência Europeia do Ambiente (AEA) a cada cinco anos, revela que “as tendências ambientais globais na Europa não melhoraram desde o último relatório, em 2015”.

A conservação da biodiversidade é o “domínio em que o progresso tem sido mais desencorajante”, sublinha a AEA em comunicado. 

Poupa. Foto: Wilder/Arquivo

“Dos 13 objectivos de política específicos definidos para 2020 neste domínio, apenas dois serão provavelmente atingidos: designar zonas marinhas protegidas e áreas terrestres protegidas.”

Entre os objectivos onde menos se tem feito estão a protecção de espécies e habitats, nomeadamente espécies comuns de aves e borboletas – em especial as aves de zonas agrícolas e as borboletas de zonas de pastagens -, a protecção dos serviços dos ecossistemas, a conservação de ecossistemas aquáticos e zonas húmidas, o estudo da biodiversidade marinha e os impactes das alterações climáticas nos ecossistemas.

Actualmente, 60% das espécies e 77% dos habitats protegidos pela Directiva Habitats da União Europeia (UE) estão ameaçados.

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Foto: Helena Geraldes

“A Europa precisa de fazer melhor, tem de enfrentar determinados desafios de forma diferente e precisa de repensar os seus investimentos.”

A janela de oportunidade é de apenas 10 anos, considera Hans Bruyninckx, director-executivo da AEA, em comunicado.

Domingos Leitão, director-exectivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), considerou hoje que este relatório “é mais uma prova gigantesca para juntar aos inúmeros estudos científicos que dão provas da crise que criámos a nível planetário”.

Mesmo para a designação de áreas protegidas, a Spea mantém-se céptica. “Sem planos e acções de gestão adequados, estas áreas são protegidas apenas no papel, a perda de biodiversidade continuará”.

“A natureza está a ser apagada da face da Terra, com consequências nefastas para a própria humanidade, e ninguém pode dizer que não sabíamos”, acrescentou, em comunicado.

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Macho de sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

No caso de Portugal, a Spea aponta o dedo “à má aplicação das políticas agrícolas”, nomeadamente o investimento de “milhões de euros na agricultura intensiva, no regadio”. Além disso, “os agricultores cujas explorações estão nas áreas protegidas e classificadas vêem-se impedidos de fazer uma gestão favorável à biodiversidade por falta crónica de apoios do Ministério da Agricultura”.

Para a semana, a nova Comissão Europeia vai lançar o seu Acordo Verde Europeu (European Green Deal). “A resposta dos Governos europeus será crucial para responder à dimensão da crise que temos entre mãos.”

Domingos Leitão apela ao Governo português para “ouvir os cientistas” e “deixar de promover o regadio e a agricultura intensiva, abster-se de autorizar projectos imobiliários e turísticos na linha de costa, acabar com a sobre-exploração dos recursos pesqueiros e proteger as reservas e parques naturais do impacto causado por aeroportos, minas e outros projectos destrutivos”.

Este é o 6º SOER publicado pela AEA desde 1995.


Saiba mais.

Aqui pode ler o relatório SOER 2020 completo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.