uma borboleta-monarca, de perfil
Borboleta-monarca (Danaus plexippus). Foto: Qoatl/Wiki Commons

Área de invernada das borboletas-monarca no México volta a diminuir

A área ocupada pelas borboletas-monarca no México, onde estão a passar o Inverno, registou uma diminuição de 26%, uma tendência que se tem repetido nos últimos anos.

De Novembro a Março, milhões de borboletas-monarca (Danaus plexippus) estão nas florestas temperadas do México para passar o Inverno, vindas dos Estados Unidos e Canadá, depois de voarem mais de quatro mil quilómetros.

A presença desta borboleta nas florestas mexicanas registou uma redução de 26% em Dezembro de 2020, ao ocupar 2,10 hectares (ha) em relação aos 2,83 ha no mesmo mês de 2019, revelou a organização WWF no México, a 25 de Fevereiro.

Em 2015/2016, a área de invernada era de cerca de quatro hectares.

A WWF – que desde 2004 monitoriza as borboletas em parceria com a Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas (CONANP) e com a Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) – explica esta redução com as alterações no uso do solo e as alterações climáticas.

Durante a Primavera e o Verão de 2020, as variações climáticas no Sul dos Estados Unidos não foram favoráveis ao desenvolvimento dos ovos e das lagartas da borboleta-monarca. Isto limitou a reprodução da população destes insectos, o que teve impacto na geração seguinte e levou à redução da população em toda a América do Norte.

Por conseguinte, chegaram menos borboletas ao México para invernar.

Segundo os censos às colónias desta espécie, na segunda metade de Dezembro de 2020 registaram-se nove colónias de borboletas-monarca – duas em Michoacán e sete no estado do México – com uma ocupação total de 2,10 ha de floresta. Cinco colónias (1,32 ha) estão dentro da Reserva da Biosfera Mariposa Monarca (RBMM) e quatro (0,78 ha) fora dela, mas ainda dentro da designada Região da Monarca.

A maior colónia (0,73 ha) estabeleceu-se no santuário El Rosario e a mais pequena (com 0,01 ha) está em San Joaquín Lamillas.

Jorge Rickards, director-geral da WWF México, salientou que, ainda que esta borboleta não esteja em perigo de extinção, está em risco o seu processo migratório. Por isso, este responsável apelou aos Governos, à comunidade científica e à sociedade civil no México, Estados Unidos e Canadá para reforçarem as medidas de conservação.

“As borboletas-monarca mostram-nos como o trabalho individual, neste caso, a migração, se pode tornar num exercício colaborativo excepcional, quando todas estas migradoras se agrupam nas florestas para hibernar juntas.”

Por outro lado, a floresta mexicana onde se concentram mais borboletas em hibernação tem vindo a degradar-se. Quer seja pelo abate ilegal ou pela queda de árvore por causa do vento e da seca.

O México, Canadá e Estados Unidos formam a rota migratória da borboleta-monarca. Estes três países trabalham para resolver os principais desafios a esta espécie: a redução do seu habitat nos locais de reprodução (Estados Unidos e Canadá), a degradação da floresta nos locais de hibernação (México) e as condições climáticas extremas nas três nações.

A WWF pede que se redobrem, urgentemente, os esforços para travar estas ameaças à migração e reprodução desta espécie.


Saiba mais sobre a borboleta-monarca em Portugal.

Em Portugal há populações de borboleta-monarca bem estabelecidas no barlavento Algarvio e sudoeste Alentejano, explicaram à Wilder Albano Soares, do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, e Patrícia Garcia-Pereira, do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais. Pela informação disponível, no nosso país esta espécie não faz migrações regulares, mas sabe-se que passa o Inverno na forma adulta.

As monarcas da última geração do Verão são iguais às outras na aparência, mas têm diferenças fisiológicas importantes: estes indivíduos estão em diapausa reprodutiva, ou seja, não têm os órgãos sexuais desenvolvidos. São estas borboletas que vão hibernar e apenas voltam a estar ativas e sexualmente maduras na Primavera seguinte.


Já que está aqui…

Ainda vai a tempo para apoiar o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.