Rola-brava (Streptopelia turtur). Foto: Kev Chapman/Wiki Commons

Caça à rola-comum está temporariamente proibida

Portugal proibiu, temporariamente, a caça à rola-comum (ou rola-brava) na época venatória de 2021-2022, anunciou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Esta é uma espécie protegida que está em declínio em vários países.

A caça à rola-comum (Streptopelia turtur) tem vindo a mudar nos últimos anos e em 2020, a época de caça foi de quatro dias por ano.

O calendário venatório para 2021-2022, apresentado em Maio passado, previa a caça à rola nos domingos de 15 e 22 de Agosto e depois a 5 e 12 de Setembro, só até às 13h00.

Mas, na sexta-feira passada, o ICNF anunciou a decisão de proibir a caça a esta espécie protegida a nível europeu, pela Directiva Aves (2009/147/CE).

“As populações de rola-comum têm vindo a apresentar, ao longo dos anos, um decréscimo significativo”, explicou, em comunicado enviado à Wilder.

Segundo o último Censo das Aves Comuns de Portugal, divulgado em Maio passado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), esse decréscimo explica-se com a “degradação dos habitats de nidificação e alimentação, a intensificação agrícola nas áreas de invernada e a pressão cinegética”.

É uma situação que se verifica em vários países europeus. Por isso está prevista a implementação até 2028 de plano de acção internacional para a conservação da rola-comum e um modelo de gestão de caça adaptativa.

“Mesmo sem caça, há uma probabilidade significativa de se manter o declínio da espécie, declínio esse que aumenta em qualquer cenário que envolva a pressão adicional originada pela caça”, explicou o ICNF, citando estudos sobre as populações de rola-comum da rota migratória ocidental, que abrange Portugal.

Segundo o instituto responsável pela conservação da natureza no nosso país, Portugal, em articulação com as Organizações do Setor da Caça (OSC) e Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA), tem “vindo a implementar medidas restritivas de caça a esta espécie, quer reduzindo os limites diários de abate, quer reduzindo drasticamente o número de dias de caça”.

Como esta é uma espécie migratória, as autoridades portuguesas defendem que a conservação da rola-comum teria de ser adoptada por vários países, de forma a ser eficaz. “Verificou-se agora que (…) os maiores países da UE (União Europeia) abrangidos pela rota migratória ocidental proibiram a caça a esta espécie, estando assim cumprida a condição essencial para Portugal poder adotar também essa medida.”

“Assim, e em sequência do referido, é adotada também em Portugal a medida de proteção temporária” à rola-comum através da proibição da sua caça na época venatória de 2021-2022.

Há anos que associações ambientalistas e algumas organizações do sector cinegético têm alertado publicamente os responsáveis políticos para o problema. Em Abril de 2015, quatro associações pediram uma suspensão temporária à rola-brava. E em Agosto de 2016, seis organizações não governamentais portuguesas – GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, SPEA e WWF Portugal – pediram ao Governo a proibição da caça a esta espécie.

Rola-brava, uma tendência populacional “incerta”

A rola-comum, outrora uma ave comum nos campos agrícolas e nas florestas, viu a sua população europeia diminuir mais de 70% entre 1980 e 2014. Esta redução chamou a atenção das autoridades de conservação da natureza mundiais que, em Novembro de 2015, a incluíram na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), com estatuto de Vulnerável.

Em Portugal, de acordo com o 1º Estado das Aves de Portugal, divulgado em Dezembro de 2019 pela SPEA, a rola-brava registou um declínio de 80% nos últimos 15 anos no nosso país. Esta espécie era abundante em Portugal no início dos anos 80 do século passado. Desde então têm sido registados “decréscimos populacionais significativos”, tanto em Portugal como em Espanha e em outros países europeus.

Segundo o mais recente Censo das Aves Comuns, divulgado em Maio deste ano, “para o período 2004-2020, a rola-brava mantém a tendência de declínio moderado, embora seja de salientar que a tendência dos últimos 10 anos é incerta, facto para o qual podem estar a contribuir as fortes oscilações na participação do censo verificadas nos três últimos anos, a última das quais uma quebra importante devido à pandemia”.

O ICNF adianta ainda que está “em fase final” o lançamento dos trabalhos relativos ao “Plano de Recuperação e Conservação da Rola Comum” em Portugal, preparado em conjunto com as OSC, ONGA e a academia, com apoio do Fundo Florestal Permanente no valor de 100 mil euros. O objetivo deste plano é “aumentar o conhecimento sobre esta espécie e determinar quais as variáveis de gestão que atualmente impactam as suas populações, no sentido de encontrar medidas que permitam inverter o seu declínio”.

Além disso, está a decorrer um procedimento concursal ao abrigo do Fundo Florestal Permanente, com uma dotação de quatro milhões de euros, “para a atribuição de apoios às entidades gestoras de zonas de caça com o objetivo de apoiar investimentos de melhoria e gestão dos habitats, uma vez que este é um fator essencial para a recuperação das espécies de fauna selvagem”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.