Foto: Norberto Esteves/Wiki Commons

Migradores: Sete curiosidades sobre uma das aves mais coloridas de Portugal

É no mês de abril que o rolieiro chega aos seus territórios de reprodução. Fique a conhecer melhor esta ave que, por estes dias, enfeita de azul algumas paisagens portuguesas.

1. Que ave é o rolieiro?

O rolieiro (Coracia garrulus), também chamado de rolieiro-europeu, é uma das nove espécies de rolieiros que existem no mundo. É aparentado com os abelharucos e os guarda-rios, aves coloridas tal como ele e igualmente membros da ordem dos Coraciformes (ou Coraciiformes), palavra derivada do latim que significa “com a forma de um corvo”. Já o nome comum do rolieiro tem uma origem curiosa: está relacionado com as suas paradas nupciais “espetaculares”, como descreveu Inês Catry durante um webinar organizado pelo portal Aves de Portugal. Os machos voam para ganhar altura, descendo depois num voo picado ao mesmo tempo que rolam sobre si próprios. “São acrobatas dos ares”, segundo esta investigadora do CIBIO-InBIO, que estuda a espécie há mais de uma década.

2. Como o podemos identificar?

Desde logo, através das suas cores vibrantes: as penas da cabeça e do corpo apresentam tons azuis e o dorso é alaranjado, enquanto que as asas são parcialmente negras por cima e de um azul violeta forte na parte inferior. Estas aves são pouco maiores do que os pombos, pesando apenas cerca de 150 gramas. Machos e fêmeas são muito difíceis de distinguir, mas elas são em geral mais pequenas e esverdeadas. Já os juvenis têm tons bastante mais esbatidos.

Rolieiro em Castuera, na região espanhola da Estremadura. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

3. Onde se encontra?

Durante a época reprodutora, os rolieiros estão presentes em muitos países da Europa, desde Portugal e Espanha à Turquia, Ucrânia, Roménia e Bulgária. No entanto, apesar de estarem classificados numa situação Pouco Preocupante, estão em declínio por todo o continente europeu. Já se extinguiram em vários países como a Alemanha, Dinamarca e Finlândia, na década de 1990, e mais recentemente desapareceram também da Eslováquia, Estónia e Eslovénia, indica Inês Catry.

4. Onde se reproduz em Portugal?

As principais colónias estão na zona de Castro Verde, Baixo Alentejo, único sítio do país onde os números têm vindo a crescer. Nesta zona, costumam nidificar em cavidades de montes alentejanos abandonados, mas também, e cada vez mais, em ninhos artificiais. Os estudos de monitorização já feitos mostram que as colónias reprodutoras no país representam menos de 1% do total europeu da espécie. De acordo com o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, estima-se que existem hoje entre 63 a 65 casais reprodutores, distribuídos de forma fragmentada nos distritos de Castelo Branco, Portalegre e Beja.

Rolieiro fotografado no Alentejo, em julho de 2022. Foto: Norberto Esteves/Wiki Commons

5. De que se alimenta?

Na região de Castro Verde, os investigadores concluíram que estas aves azuis encontram principalmente os seus alimentos, como escaravelhos, grilos-ralos e gafanhotos, nos campos agrícolas que são deixados em pousio. Preferem caçar a partir de pousos como vedações ou postes telefónicos e de eletricidade, voando rapidamente para apanhar a presa quando a avistam. Facto curioso: enquanto os adultos parecem alimentar-se principalmente de escaravelhos (coleópteros), e em segundo lugar de gafanhotos, são estes últimos que as crias recebem como principal alimento. Possivelmente, porque os gafanhotos são mais fáceis de comer, por não serem tão duros, e também por serem maiores e mais energéticos, explica Inês Catry.

6. Quais são as rotas migratórias dos rolieiros?

São migradores de longa distância. Os estudos científicos já feitos, tirando partido da evolução das tecnologias de ‘tracking’ (seguimento à distância) nos últimos anos, mostram que estas aves voam milhares de quilómetros e que podem ter rotas e estratégias de migração muito diferentes. Em geral, partem de Portugal e de outros países europeus entre finais de julho e agosto, atravessando o Saara e a faixa de savanas do Sahel, que fica logo abaixo do deserto, e chegam aos territórios de invernada entre outubro e novembro. Pelo caminho, fazem paragens que se podem prolongar por um ou dois meses, para se alimentarem e recuperarem energia. Invernam em países como Angola, Namíbia e Botswana e também na Tanzânia, onde se alimentam de insetos nas savanas de ervas altas. Saem novamente em meados de fevereiro, chegando a Portugal durante o mês de abril.

Rolieiros observados na Bulgária, na região das montanhas Rhodope. Foto: Stefanavramov/Wiki Commons

7. Quais são as maiores ameaças que enfrenta?

A nível mundial, a caça e a captura ilegais são problemas preocupantes para a espécie. Em países como a Arábia Saudita e Omã, caçam-se rolieiros para serem comidos. Por vezes, como já foi detetado na Sérvia, são capturados também para ficar em cativeiro. Em Portugal, onde o rolieiro está classificado como Criticamente em Perigo de extinção, as maiores ameaças parecem estar relacionadas com as mudanças no uso do solo e a perda de locais de nidificação, associados ao aumento das monoculturas e do pastoreio intensivo, à florestação e ao abandono dos campos agrícolas.


A SPEA-Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves patrocina a secção “Seja um Naturalista”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.