Bufo-real. Foto: CERAS/QUERCUS

Centros da Quercus receberam 437 animais selvagens durante o confinamento

Os três centros de recuperação de animais selvagens da Quercus continuaram a funcionar durante o confinamento. Entre meados de Março e o fim de Maio, receberam 437 animais de mais de 87 espécies.

 

Em causa estão o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco (CERAS), o Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Montejunto (CRASM) e o Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Santo André (CRASSA). Os três fazem parte da Rede Nacional de Centros de Recuperação de Fauna, tutelada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Durante o confinamento devido à pandemia de Covid-19, deram ali entrada “espécies tão distintas como cegonhas, corujas, águias, abutres, ouriços, lontras e texugos”, explica em comunicado a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. “Algumas destas espécies têm um estatuto de conservação elevado, tal como o abutre-preto, o milhafre-real, o açor, o falcão-peregrino e o falcão-abelheiro”, exemplifica.

 

Um dos ouriços tratados no CERAS

 

Muitos dos animais em questão foram recolhidos por agentes do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), da GNR, e por vigilantes da natureza do ICNF. Outros, em número mais pequeno, foram para ali transportados por cidadãos comuns.

No CRASM, em Montejunto, ingressaram em pouco tempo cerca de 150 animais, “quase tantos como num ano todo”, explicou Samuel Infante, da Quercus, à Wilder. Para aquele centro foram desviados muitos animais que teriam dado entrada no centro de recuperação de fauna selvagem de Lisboa, que suspendeu a entrada de novos casos durante o confinamento. Pelo mesmo motivo também o CRASSA, em Santo André, teve mais entradas do que é habitual.

 

Raposas, dezenas de crias de andorinhão e abutre-preto

Já no CERAS, em Castelo Branco, têm dado entrada muitos “pacientes”, entre águias-sapeiras, morcegos, cegonhas-pretas e brancas, corujas-do-mato, machos-galegos, ouriços e muitas outras espécies, conta Samuel Infante, responsável deste centro. “Temos mais de 50 animais internados neste momento”, adianta.

Entre estes contam-se também “nove raposas”, incluindo algumas “presas em armadilhas que ficaram com amputações, outras órfãs e ainda vítimas de atropelamento”.

 

Cria de raposa em recuperação

 

Outra entrada recente foi uma cria de abutre-preto que não estava a desenvolver-se bem e foi por isso recolhida da sua colónia, no Parque Natural do Tejo Internacional. No centro estão agora também “dezenas de crias de andorinhão e de outros passeriformes”, que de três em três horas são alimentadas pacientemente por voluntários.

Em 2019 cada um dos centros da Quercus, tal como outras unidades de recuperação de fauna em Portugal, concorreram a apoios do Fundo Ambiental. O dinheiro recebido – 40.000 euros para cada uma destas três unidades – “foi fundamental” para o trabalho realizado, nota o mesmo responsável.

No CERAS, uma das obras na qual esse dinheiro foi investido foi a construção de um túnel circular de voo, que “permite às águias-cobreiras treinarem o voo de musculatura sem parar.” Foram ainda construídas instalações novas específicas para receber os mamíferos.

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.