Cientista portuguesa premiada pelo concurso #ScientistAtWork da Nature

A fotografia que imortalizou Bárbara Cartagena-Matos como “apoio” de um macaco-barrigudo na Amazónia foi uma das cinco imagens vencedoras da edição de 2019 do concurso #ScientistAtWork da revista Nature.

 

O concurso promovido pela revista Nature quer distinguir fotografias que destaquem a vida profissional dos cientistas de uma forma dinâmica e criativa. As cinco fotografias premiadas nesta edição, a terceira, foram selecionadas entre cerca de 370 candidaturas, retratando cientistas a trabalhar um pouco por todo o mundo.

Bárbara Cartagena-Matos, estudante de doutoramento no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), é autora de uma das cinco fotografias premiadas este ano. Esta é a primeira vez que uma investigadora portuguesa é distinguida neste concurso.

O primeiro prémio foi atribuído a Mikhail Kapychka, com uma fotografia do trabalho de campo que fazia com as efémeras, insectos aquáticos, na Bielorússia.

 

Foto: Mikhail Kapychka

 

Bárbara Cartagena-Matos partilha a selfie premiada com Carlinha, uma fêmea de macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha cana), explica a Faculdade de Ciências numa nota publicada a 9 de Abril.

A fotografia foi tirada em 2013, na Amazónia Brasileira, próximo do Amazon Ecopark Jungle Lodge, onde na altura Bárbara estava em trabalho de campo no âmbito do seu projeto final de licenciatura em Biologia, na Universidade de Aveiro.

“Estudei durante sete meses o comportamento social, a dieta e o uso de habitat de um grupo ameaçado de extinção de 18 macacos-barrigudos, que ali viviam em semi-cativeiro”, contou Bárbara Cartagena-Matos.

A área em questão, na altura sob gestão da Fundação Living Rainforest, é uma área de conservação ex situ para primatas que foram ilegalmente explorados, como o caso dos macacos mais velhos do grupo.

Bárbara passou vários dias na companhia dos macacos e dos guias de campo e tratadores, que a ajudavam a recolher os dados de que precisava para o projeto. “Tentei manter a distância do grupo, para interferir o menos possível com os seus comportamentos e hábitos naturais. No entanto, sempre que a Carlinha saltava para os meus ombros eu tinha de parar de recolher dados”, recorda a investigadora.

“Ela era a única [do grupo] que passava mais tempo no chão do que nas árvores: deitava-se no chão a descansar, ou às vezes vinha simplesmente ter comigo, saltava para os meus ombros e mexia-me no cabelo. Acho que os outros macacos pensavam que ela era a esquisita do grupo, ao interagir assim com um humano!”

“Para mim esta imagem representa os meus primeiros passos como bióloga da vida selvagem, já que este trabalho deu origem aos meus primeiros dois artigos científicos”, comentou.

“Também representa a minha coragem em decidir não ter medo ou dúvidas e seguir em frente, abrindo caminho pela Amazónia, tão longe de casa tão jovem – tinha 21 anos na altura! E dá-me a oportunidade de contar a história destes e muitos outros animais selvagens que sofrem nas mãos do tráfico, bem como outras ameaças que eles enfrentam num habitat que está a desaparecer – a floresta tropical.”

Desde 2013, a investigadora estudou lontras marinhas e baleias e agora está a comparar metodologias e tecnologias usadas na investigação em cetáceos. O seu objectivo é contribuir com novo conhecimento sobre a dinâmica ecológica dos cetáceos em áreas pouco estudadas em Portugal.

Os autores das cinco fotografias distinguidas pelo concurso #ScientistAtWork recebem uma assinatura anual da revista Nature; o autor da fotografia vencedora recebe também um prémio monetário. Foram ainda atribuídas quatro menções honrosas.

Pode ver as fotografias distinguidas e conhecer as suas histórias aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.