Cientistas descobrem duas novas toupeiras na Turquia

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Investigadores descreveram uma nova espécie de toupeira, Talpa hakkariensis, e uma nova subespécie de toupeira, Talpa davidiana tatvanensis que, dizem, estavam “escondidas” há três milhões de anos nas montanhas da zona oriental da Turquia.

As duas toupeiras agora descritas para a Ciência – Talpa hakkariensisTalpa davidiana tatvanensis – pertencem a um grupo de mamíferos que vivem debaixo do solo e que comem invertebrados. Ocorrem na Europa e Ásia Ocidental.

Talpa hakkariensis. Foto: Universidade de Plymouth

Em Portugal apenas vive uma espécie de toupeira, a Talpa europaea occidentalis. Segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, esta é uma espécie com estatuto Pouco Preocupante.

Os investigadores, usando tecnologia de análise de ADN, confirmaram que as duas toupeiras em questão são biologicamente diferentes das outras.

Para chegar a estas novas espécies, os investigadores estudaram o tamanho e a forma de várias estruturas do corpo dos animais, usando avançadas análises matemáticas, o que também lhes permitiu incluir espécimes recolhidos no século XIX e que estão guardados em colecções de museus de história natural. Uma análise complementar do ADN das toupeiras e uma comparação detalhada com outras espécies conhecidas, confirmou que estavam na presença de espécies e subespécies novas para a Ciência.

Ambas vivem nas regiões montanhosas da zona oriental da Turquia e são capazes de sobreviver a temperaturas que sobem até aos 50ºC no Verão e a estarem soterradas debaixo de dois metros de neve no Inverno.

O estudo, publicado a 18 de Julho na revista Zoological Journal of the Linnean Society, foi feito por investigadores da Universidade turca de Ondokuz Mayıs, da Universidade Indiana (Estados Unidos) e da Universidade britânica de Plymouth.

David Bilton, da Universidade de Plymouth, credita que as novas descobertas são notáveis por várias razões. “Hoje é muito raro encontrar novas espécies de mamíferos”, disse em comunicado. “Só existem cerca de 6.500 espécies de mamíferos identificadas em todo o planeta e, por comparação, existem cerca de 400.000 espécies conhecidas de escaravelhos, com uma estimativa de um a dois milhões na Terra.”

“À primeira vista, as novas toupeiras que identificámos neste estudo parecem semelhantes a outras espécies, uma vez que viver debaixo de terra impõe sérias condicionantes à evolução do tamanho e forma corporal; na verdade há um número limitado de opções disponíveis para as toupeiras. O nosso estudo sublinha de que forma, nestas circunstâncias, podemos subestimar a verdadeira natureza da biodiversidade, mesmo em grupos como os mamíferos”, acrescentou.

Com estas descobertas, o número de toupeiras euroasiáticas conhecidas subiu de 16 para 18.

A toupeira Talpa hakkariensis, encontrada na região Hakkari no sudeste da Turquia, foi identificada como nova espécie, muito diferente tanto na morfologia como no ADN.

A Talpa davidiana tatvanensis – encontrada perto de Bitlis, também no sudeste da Turquia – também foi identificada como sendo morfologicamente distinta mas foi classificada como subespécie da Talpa davidiana. Esta foi identificada pela primeira vez em 1884.

“Não temos dúvidas de que investigações posteriores venham a revelar mais diversidade e que mais novas espécies de toupeiras ainda estão por descrever nesta região e nas regiões adjacentes”, acrescentou Bilton.

“Numa altura em que se ouvem cada vez mais apelos para preservar a biodiversidade global, se queremos proteger as espécies precisamos de saber, em primeiro lugar, que elas existem.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.