As três crias de lince-ibérico. Foto: Guardia Civil Castilla-La Mancha

Três linces-ibéricos recém-nascidos encontrados num palheiro em Toledo, Espanha

Um criador pecuário deparou-se este sábado, 23 de Março, com as pequenas crias a dormirem num dos barracões onde armazena os fardos de palha.

Os nascimentos de linces-ibéricos em locais construídos por humanos são pouco frequentes, embora algumas fêmeas da espécie escolham edifícios para se abrigarem e parir as suas crias, indica uma notícia publicada pelo El País.

“Ao princípio, pensou que eram gatos, mas pareceram-lhe diferentes e avisou o 112”, explicou Alfonso Sánchez, coordenador dos agentes do Meio Ambiente em Castela-La Mancha. Como o criador pecuário utiliza aquele armazém para palha de reserva, não o visita com frequência, o que permitiu à fêmea de lince encontrar ali um refúgio.

Segundo o diário espanhol, os agentes da Seprona da Guardia Civil espanhola, ligados à conservação da natureza, dirigiram-se à quinta localizada em Menasalbas, município de Toledo, e confirmaram que as crias estavam num leito de palha. Instalaram câmaras de foto-armadilhagem e à distância vigiaram a mãe a alimentar os três filhotes, durante um dia e meio. Na segunda-feira, a mãe mudou as crias de lugar.

Uma vez que esta fêmea nasceu em liberdade e não está a ser seguida com nenhum dispositivo GPS, não é possível saber-se para onde terá ido. Na região de Castela-La Mancha conhecem-se hoje vários núcleos populacionais deste felino considerado Em Perigo de extinção, num total estimado de cerca de 700 indivíduos.

Um longo caminho

Em Portugal e Espanha, nos últimos anos o lince-ibérico tem sido alvo de vários projetos de recuperação. No início deste século, chegou a ser considerado em “pré-extinção”, uma vez que em toda a Península Ibérica viviam menos de 100 exemplares.

O declínio deveu-se principalmente ao colapso das populações de coelho-bravo, a principal presa do lince – especialmente por causa de doenças como a mixomatose e a febre hemorrágica viral – e também a caça indiscriminada e a perda de habitat. Para esta última, contribuíram as campanhas agrícolas e de reflorestação com eucalipto e pinheiro-manso, que destruíram os matagais mediterrânicos desde a primeira metade do século XX.

Graças aos esforços conservacionistas de Portugal e Espanha, tanto a nível da reprodução em cativeiro como na recuperação de habitats e reforço e ligação das populações selvagens, a espécie tem vindo a repovoar os seus territórios históricos.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

Atualmente, está em curso o projecto LIFE Lynxconnect – “Criando uma metapopulação de lince-ibérico (Lynx pardinus) genética e demograficamente funcional”. A 19 de Maio de 2023, soube-se que existem 1.668 linces-ibéricos no mundo, segundo os dados do mais recente censo à espécie. 


Saiba mais.

Releia aqui as notícias que já foram publicadas na Wilder sobre o lince-ibérico.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.