Percevejo-asiático. Foto: Katja Schulz/Wiki Commons

Cientistas pedem ajuda de todos para encontrarem o percevejo asiático

Uma equipa da Universidade de Coimbra pede ajuda a todos os cidadãos para estarem atentos e avisarem sobre avistamentos desta espécie invasora, que se está a espalhar rapidamente por todo o mundo.

Embora não haja ainda notícias do estabelecimento deste percevejo asiático em Portugal, no início de 2019 foi interceptado na região de Pombal, em equipamento agrícola importado de Itália, país onde está a causar muitos prejuízos económicos.

Uma equipa de investigadores, ligados ao FLOWer Lab – Centre for Functional Ecology, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), tem agora em mãos uma campanha de sensibilização para os problemas causados por esta praga.

Além da vespa asiática, “existe outro inseto muito problemático, o percevejo asiático (Halyomorpha halys), que, com certeza, nos vai incluir na já longa lista de países invadidos em todo o mundo”, alertam, em comunicado.

Assim, pedem a todos os cidadãos, e em especial aos produtores agrícolas, que partilham fotografias do possível avistamento destes insectos, seja no grupo do Facebook deste projecto ou através de email ([email protected]).

Oriundo do oeste da Ásia, o percevejo asiático foi acidentalmente introduzido nos Estados Unidos em 2001 e na Europa em 2004, aqui por via da Suíça. Entretanto, chegou ao Chile em 2017, e a partir desses diferentes pontos está a expandir-se por várias regiões do mundo.

Percevejo-asiático. Foto: Katja Schulz/Wiki Commons

A região mais próxima de Portugal onde foi detectado até agora, como espécie estabelecida, é a Catalunha, em 2016, mas os investigadores portugueses acreditam que deverá chegar a Portugal.

“O clima favorável em Portugal, a rápida progressão observada e os danos agrícolas e de saúde pública com difícil combate, e a intersecção verificada [em Pombal] no início do ano, tornam imperativo trazer o conhecimento ao público e assim tentar evitar a expansão silenciosa”, alerta Hugo Gaspar, investigador do FLOWer Lab responsável pela produção dos materiais de divulgação e pela identificação dos avistamentos suspeitos.

E tal como em muitos outros casos, a globalização tem um papel muito importante na expansão desta espécie. Apesar de conseguir voar entre 5 a 10 quilómetros por dia, este percevejo chega muito mais longe agarrado a “estruturas humanas como meios de transporte, contentores navais e até malas de viagem ou caixas enviadas em compras online, que permitem a deslocação por milhares de quilómetros”.

Depois, chegado ao novo destino, consegue alimentar-se de uma grande variedade de plantas e são quase inexistentes os inimigos naturais (predadores ou parasitas). E em muitos países, incluindo Portugal, o clima é favorável.

O que faz?

Em causa está “um insecto picador-sugador capaz de se alimentar em mais de 300 espécies de plantas nas suas diferentes estruturas (frutos, folhas, rebentos…), incluindo inúmeras plantas de interesse agrícola, que poderá ter efeitos muito negativos para a agricultura”, sublinha João Loureiro, também investigador do FLOWer Lab.

É entre Abril e Novembro, quando está activo e a alimentar-se, que este percevejo causa mais prejuízos, pois “inviabiliza comercialmente os produtos agrícolas”, sem que haja até hoje uma forma eficaz de ser controlado, avisa o investigador. “As perdas a este nível podem chegar a 90% de produção, e culturas agrícolas como o tomate, milho, pera, uva, e laranja”.

Já entre Dezembro e Março, quando entra em diapausa (hibernação), o percevejo-asiático vai em busca de abrigo no interior de casas e barracões, levando a “uma concentração elevada de organismos – na ordem dos milhares de insetos – agravada pela libertação de odores nefastos quando perturbados”.

Como identificar

Este insecto pertence à ordem Hemiptera, que se caracteriza pela presença de um aparelho bucal de sucção, explica a equipa do projecto.

Em Portugal, existem cerca de 2.000 espécies nesta ordem, incluindo percevejos, cigarras e afídeos. Entre os percevejos, há “algumas espécies nativas em Portugal muitos semelhantes” ao percevejo-asiático, e que não são invasores como aquele, avisa a equipa.

Quais são as características desta espécie, que ajudam a identificá-la?

  • Forma do corpo semelhante a um escudo, com um padrão marmoreado de castanho e cor de marfim, acompanhado de listas laterais a preto e branco;
  • Cada antena tem duas bandas claras, uma delas na última dobra da antena;
  • A extremidade transparente da asa tem as veias a escuro (semelhante a linhas) e não pontilhado;
  • Tem pontuações claras no dorso, no mínimo cinco, que sobressaem no padrão marmoreado.

Por esta altura, terminado o período de reprodução, os percevejos-asiáticos adultos estão a deslocar-se para os abrigos, entre Setembro e Novembro, onde vão entrar em diapausa até as temperaturas subirem. “A detecção da expansão torna-se importantíssima nesta época do ano, em que o insecto vem ter com o homem em busca de abrigo.” 

A época de reprodução acontece normalmente entre Julho e Agosto – em Itália já foi observada até Outubro – quando “cada fêmea pode colocar 400 ovos, e duas a três gerações podem coincidir na mesma época”, descrevem os investigadores. As ninfas demoram entre 45 a 50 dias a atingir a maturidade.

A equipa da campanha de comunicação sobre o percevejo-asiático, ligada ao FLOWer Lab. Foto: D.R.

Agora é a sua vez.

Suspeita de que encontrou percevejos-asiáticos? Saiba o que deve fazer, de acordo com a equipa do FLOWer Lab:

“O primeiro passo após detecção de suspeita (recorrendo ao panfleto com os detalhes de identificação) passa pelo envio de fotografias para o email criado para o efeito ([email protected]), onde a confirmação é feita num curto espaço de tempo.

A confirmar-se a intersecção, o organismo deve ser recolhido e enviado para o FLOWer Lab do Centre for Functional Ecology da Universidade de Coimbra, que encaminhará para as entidades competentes de forma acelerada, já com uma confirmação sólida.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.