Cientistas pedem que luta mundial pela Biodiversidade inclua todos os fungos

Foto: Universidade de Coimbra

Uma carta publicada hoje na revista científica Science apela a que todos os fungos sejam incluídos nas metas globais para a conservação da biodiversidade, que vão ser aprovadas na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15), que irá decorrer em Kunming, China, de 11 a 24 Outubro.

A missiva é liderada pela investigadora Susana C. Gonçalves, do Centre for Functional Ecology da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e dirige-se sobretudo às partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica reunidas na COP15.

Susana C. Gonçalves. Foto: D.R.

“Pretende-se que incluam explicitamente o Reino Fungi nos alvos designados através da inclusão do termo funga, substituindo em todos os documentos a expressão ‘fauna e flora’ por ‘fauna, flora e funga'”, sublinha, em comunicado, Susana C. Gonçalves.

“É chocante que apenas umas escassas 425 espécies, dos milhões de espécies de fungos que habitam o planeta, tenham sido avaliadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas”, pode ler-se na carta hoje publicada, que é assinada por mais três investigadores (da Bélgica, do Chile e dos EUA). 

Esta carta surge como resposta a uma carta anterior, também publicada na Science. Esta defendia “a inclusão dos chamados ‘macrofungos’ (fungos cujas estruturas reprodutoras são visíveis a olho nu, por exemplo cogumelos e trufas) nas metas globais de biodiversidade pós-2020”, explicou Susana C. Gonçalves.

“Na nossa carta, enfatizamos a necessidade de incluir todos os fungos e providenciamos evidências de que os ‘microfungos’ merecem igual consideração.”

Foto: Universidade de Coimbra

Os cientistas notam que, embora as pessoas associem os fungos aos cogumelos, na realidade, “a maioria dos fungos não produz estruturas reprodutivas visíveis a olho nu. Por exemplo, os fungos micorrízicos arbusculares são extremamente importantes: colonizam as raízes de 80% de todas as plantas, uma simbiose que ajudou as plantas a conquistarem a terra. Os bolores, tais como aqueles dos quais a penicilina foi isolada, são também microfungos. As leveduras Saccharomyces, que nos dão o pão, a cerveja e o vinho, são fungos unicelulares”.

Os autores avisam ainda que a falta de conhecimento sobre “quais os fungos com maior risco de extinção dificulta a nossa capacidade de informar as ações de conservação para apoiar essas espécies e, em última análise, fornecer soluções baseadas nos fungos para enfrentar os prementes desafios globais”.

“Os fungos suportam toda a vida na Terra. Não podemos permitir-nos negligenciá-los nos nossos esforços para travar a perda de biodiversidade”, lê-se no final da carta. 

“A Science tem um enorme alcance. Por isso, esperamos que a publicação da carta faça com que muitas mais pessoas e organizações juntem a sua voz à nossa”, espera a investigadora.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.