Elefante asiático. Foto: Basile Morin/Wiki Commons

Elefante asiático perdeu dois terços da sua área histórica desde o século XVIII

Mais de 3 milhões de quilómetros quadrados deixaram de estar disponíveis para este grande mamífero desde o início da colonização da Ásia pelos europeus, conclui um novo estudo.

Num estudo publicado esta quinta-feira pela revista científica Scientific Reports, uma equipa internacional liderada pela Universidade da Califórnia San Diego analisou as mudanças de uso do solo no continente asiático ao longo de mais de 13 séculos, entre o ano 850 e 2015.

Contas feitas, estimam que se perderam mais de 64% de áreas com habitats adequados ao elefante asiático (Elephas maximus), como pradarias e florestas tropicais, que antes se estendiam pelo continente. Desde 1984 que a espécie, uma das três espécies de elefantes que existem no mundo, é considerada Em Perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza.

As mudanças nos habitats aconteceram especialmente a partir do século XVIII, quando se tornaram mais comuns acções como o corte de árvores para madeira e para a criação de áreas de pecuária e agricultura. A equipa calcula que o tamanho médio das áreas disponíveis para a espécie caiu mais de 80%, em média, de 99.000 para 16.000 quilómetros quadrados.

“Nos séculos XVII e XVIII há evidência de uma alteração dramática no uso da terra, não apenas na Ásia, mas a nível mundial”, afirma Shermin de Silva, primeiro autor do estudo e investigador da UC Universidade de San Diego, numa nota de imprensa sobre os resultados. “Por todo o mundo vemos uma transformação muito forte, com consequências que persistem até hoje.”

Os investigadores avisam também que as populações de elefante asiático que restam não terão hoje a quantidade necessária de habitat disponível, o que é uma causa para conflitos com as populações humanas locais.

“Este estudo tem implicações importantes para a nossa compreensão da história da presença do elefante na Ásia e estabelece as bases para compreendermos melhor e modelarmos o futuro potencial da espécie no continente”, disse por sua vez Philip Nyhus, co-autor do estudo e professor do Colby College, nos Estados Unidos.

A equipa de investigadores nota que a área histórica dos elefantes terá sido muito maior do que as actuais áreas protegidas, que não têm tamanho suficiente para suportar as populações deste mamífero na Ásia, alertam. No estudo, foram incluídas terras que tinham sistemas tradicionais de gestão que foram alterados nos últimos três séculos, pois a perda dessas práticas antigas pode ser uma das razões principais para a perda de habitats, acreditam os cientistas.

Quanto ao futuro, os autores acreditam que será necessário ter em consideração as necessidades das populações humanas locais, “comunidades historicamente marginalizadas”, caso se avance com o restauro de habitats. Isto de forma a que seja feita “justiça social e ambiental” para com essas pessoas.


Saiba mais.

Recorde estes 10 factos sobre elefantes que todos devemos saber. Em 2021, os elefantes africanos foram declarados Em Perigo e Criticamente em Perigo.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.