Empresa mineira terá de pagar cerca de 5 mil milhões de euros por desastre no rio Doce

O Brasil vai obrigar a empresa mineira responsável pelo desastre ambiental no Rio Doce (Minas Gerais) a pagar 20 mil milhões de reais (cerca de 5 mil milhões de euros). A lama já cobre uma área total de 80 quilómetros quadrados.

 

Na tarde de 5 de Novembro, a barragem com resíduos mineiros da empresa Samarco rompeu-se e causou um “tsunami” de 60 milhões de metros cúbicos de lamas (uma quantidade que encheria mais de 20 mil piscinas olímpicas) que destruiu vários distritos de Minas Gerais – o principal estado mineiro do Brasil – e atingiu o Rio Doce. Treze pessoas morreram e 250 mil ficaram sem água potável. Os distritos de Bento Rodrigues e Barra Longa ficaram soterrados pela lama, composta essencialmente por óxido de ferro e sílica. Segundo o biólogo Ricardo Motta Coelho, da Univesidade Federal de Minas Gerais, citado ontem pelo jornal O Globo, a lama já cobre uma área total de 80 quilómetros quadrados.

Ontem, o Governo brasileiro e os governos regionais dos estados atingidos – Minas Gerais e Espírito Santo – definiram na Justiça Federal do Distrito Federal uma multa de 20 mil milhões de reais à Samarco e aos seus proprietários, a BHP Billiton e a Vale. Esses 20 mil milhões de reais serão administrados por um fundo durante dez anos, com o objectivo de pagar a recuperação da região da bacia do rio Doce.

A Presidente brasileira Dilma Rousseff acusou a empresa de “acção irresponsável”, num discurso na COP21 sobre alterações climáticas, a decorrer em Paris. “Estamos a punir severamente os responsáveis por esta tragédia”, disse Rousseff, citada pela agência de notícias Reuters.

 

 

A 12 de Novembro, a Samarco já tinha sido multada em 250 milhões de reais (cerca de 70 milhões de euros) pelo Ibama, o Instituto brasileiro do Ambiente, depois de uma visita da sua presidente, Marilene Ramos, ao local. A Samarco foi autuada por causar poluição hídrica, por tornar zonas urbanas impróprias para ocupação, por causar a suspensão do abastecimento público de água e por causar a morte de animais e perda de biodiversidade ao longo do Rio Doce, segundo um comunicado do Ibama.

Segundo o biólogo Ricardo Motta Coelho, a lama está depositada nas margens do rio, em grande quantidade. “Em alguns lugares há mesmo dois metros de lama nas margens.” Mais de duas toneladas de peixes mortos já foram recolhidos do Rio Doce.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.