Encontradas partículas de plástico na neve do Ártico

Investigadores encontraram na região mais de 14.000 partículas por litro de neve derretida.  

Micropartículas de plástico, com menos de cinco milímetros, estão a cair do céu com a neve – incluindo no Árctico, considerado um dos últimos recantos intocados do planeta -, revela um artigo científico publicado a 14 de Agosto na revista Science Advances.

Em 2017, investigadores alemães e franceses recolheram amostras de neve nas ilhas Svalbard, território árctico norueguês.

Foto: Instituto Alfred Wegener

Estas foram depois analisadas no laboratório do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha.

Os investigadores ficaram surpreendidos com a quantidade de partículas encontradas: até 14.400 partículas por litro de neve derretida. A maioria parecia ser composta por materiais naturais como a celulose de plantas e peles de animais. Mas também havia partículas de plástico, fragmentos de pneus de borracha, verniz, tinta e fibras sintéticas.

“Esperávamos encontrar alguma contaminação, mas esta quantidade de microplásticos foi um verdadeiro choque”, comentou à BBC News Melanie Bergmann, coordenadora da equipa.

Os investigadores concluíram que, aparentemente, os microplásticos podem ser transportados ao longo de enormes distâncias pela atmosfera e mais tarde cair do céu com a precipitação, especialmente com a neve.  

“Sabemos que a maior parte do que estamos a analisar e a medir aqui é poluição transportada por longas distâncias vinda da Europa, Ásia e de todo o mundo”, disse à BBC News Eldbjorg Sofie Heimstad, do Instituto Norueguês de Pesquisa Aérea, que não participou no estudo. “Algumas dessas substâncias químicas têm propriedades que são uma ameaça para o ecossistema, para os animais.”

Foto: Instituto Alfred Wegener

“Isto deixa-me incrivelmente triste”, disse à BBC News Lili, funcionária de um centro de trenós puxados por cães perto de Tromso, no ártico norueguês. “Temos plástico no gelo marinho. Temos plástico no oceano e nas praias. E agora plástico na neve.” “Todos os dias vemos a beleza desta região e como está a mudar tanto. E a ser contaminada. Custa muito.”

Além da ilha de Svalbard, os investigadores recolheram amostras de neve de Helgoland, Bavária, Bremen e dos Alpes Suíços. Em todos os locais existiam elevadas concentrações de microplásticos. A concentração mais elevada foi encontrada perto de uma estrada rural na Bavária: 154.000 partículas por litro.

Todos os anos, vários milhões de toneladas de plásticos acabam nos oceanos. Devido ao movimento das ondas e à radiação ultravioleta do Sol, este lixo vai sendo gradualmente fragmentado em pedaços cada vez mais pequenos. Estes microplásticos podem ser encontrados nos sedimentos marinhos, na água do mar e nos organismos marinhos que, inadvertidamente, os ingerem.

Nos últimos anos têm sido publicados vários artigos científicos sobre os microplásticos no ambiente, mas não tanto sobre até que ponto podem estas partículas ser transportadas pela atmosfera.

Esta investigação junta-se a algumas outras sobre este tema em específico, incluindo o trabalho de investigadores que confirmaram a presença destas micropartículas nos Pirinéus e perto de grandes cidades na França e na China.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.