Encontrados em Madrid exemplares do raríssimo lagostim-de-patas-brancas

Lagostim-de-patas-brancas. Foto: Comunidade de Madrid

A Comunidade de Madrid encontrou exemplares do lagostim-de-patas-brancas, espécie autóctone na Península Ibérica e que se considerava extinta na região. Em Portugal estará extinta ou próxima da extinção.

O lagostim-de-patas-brancas (Austropotamobius pallipes), a única espécie de lagostim nativa de Portugal, pertence ao grupo de espécies que tem vindo a desaparecer silenciosamente um pouco por toda a Europa.

Lagostim-de-patas-brancas. Foto: Comunidade de Madrid

Até à década de 1980, a maioria das populações desta espécie em Portugal estavam no Nordeste de Portugal, em Trás-os-Montes. Nas últimas décadas a espécie regrediu de tal forma que a sua extinção parece ser uma realidade irremediável. Segundo o Plano Sectorial da Rede Natura 2000 para os invertebrados, “hoje pode falar-se no aparente desaparecimento da espécie, embora se pense que existirá ainda em pequeníssimas bolsas na bacia do Douro, relativamente próximo da fronteira com Espanha”.

Desde a década de 70 que em Espanha este lagostim tem visto a sua população reduzir drasticamente. Uma das principais razões é a introdução de espécies exóticas, como o Lagostim vermelho da Louisiana (Procambarus clarkii).

Esta espécie nativa da América do Norte é um predador voraz de anfíbios – como a salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl) e a rela (Hyla arborea) -, insectos e plantas, é temido pelos orizicultores, que vêem as galerias escavadas pelos lagostins secar os seus campos de arroz, e é uma ameaça ao lagostim-de-patas-brancas por competição (alimentar e espacial), predação e por transmitir um fungo que é mortal.

Lagostim-vermelho-do-Louisiana. Foto: Floma24/Wiki Commons

Hoje, a Comunidade Autónoma de Madrid anunciou ter confirmado a existência de uma colónia de lagostim-de-patas-brancas, espécie que se considerava extinta naquela região. “Os exemplares detectados correspondem à combinação de cromossomas H1, característicos da zona central de Espanha e de Portugal”, segundo um comunicado daquela entidade.

“Temos a satisfação de anunciar a descoberta de uma colónia de lagostins-de-patas-brancas. Há uns meses foram encontrado cerca de cinco exemplares e posteriormente uns 25, 30, que foram devolvidos ao seu meio natural depois de feitas análises ao seu ADN” para confirmar que se tratava mesmo desta espécie, explicou Luis del Olmo, director geral de Biodiversidade daquela Comunidade.

Esta colónia, encontrada na zona Sul da região, sobreviveu graças ao facto de ocupar troços de rio totalmente isolados dos rios principais, onde vivem espécies exóticas invasoras que os põem em perigo, explicam os peritos da direcção geral de Biodiversidade e Recursos Naturais.

Neste momento estão registadas oficialmente cerca de 350 populações de lagostins-de-patas-brancas.

Luis del Olmo garante que vão continuar a acompanhar esta pequena colónia de Madrid, tendo “a esperança de que algum dia possamos recuperar esta espécie”.

O governo regional está a trabalhar para remover algumas espécies exóticas invasoras, uma ameaça para a conservação da flora e fauna autóctones.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.