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Espécies comuns espelham resposta dos animais raros às alterações globais

As populações de animais comuns são tão prováveis de aumentar ou diminuir com as alterações mundiais como as espécies raras, sugere um novo estudo científico.

O estudo de mais de 2.000 espécies revela que as populações de animais em todo o mundo – desde as espécies muito comuns às ameaçadas – são afectadas pelas alterações globais na terra, no mar e nos rios.

As espécies, ao nível mundial, estão sujeitas a uma variedade de ameaças como alterações nos habitats, exploração de recursos e caça.

Anteriormente era comum pensar que animais Criticamente Em Perigo corriam maior risco de declínio do que espécies comuns.

Mas não é bem assim, sugere um estudo publicado hoje na revista Nature Communications. Este salienta a necessidade de olharmos mais além do estatuto de ameaça de uma espécie para melhorarmos a conservação global da biodiversidade, dizem os cientistas.

Até há pouco tempo, os cientistas ainda estavam a compilar dados sobre como as populações animais estavam a mudar no tempo, à escala global e em diferentes regiões do planeta.

Usando os dados mais recentes, uma equipa da Universidade de Edimburgo estudou cerca de 10.000 populações animais registadas na base de dados Living Planet Database entre 1970 e 2014 para obter uma nova perspectiva das mudanças ao nível das populações de animais. Os investigadores estudaram mamíferos, répteis, tubarões, peixes, aves e anfíbios.

A equipa descobriu que 15% de todas as populações entraram em declínio durante esse período, que 18% registaram um aumento e que 67% se mantiveram estáveis.

Os anfíbios foram o único grupo cujo tamanho populacional diminuiu, enquanto as aves, mamíferos e répteis registaram aumentos.

O declínio geral nos anfíbios faz deles uma prioridade nos esforços de conservação, dizem os investigadores, já que a perda dessas espécies poderá ter efeitos dominó nas cadeias alimentares e ao nível dos ecossistemas.

“Muitas vezes assumimos que os declínios nos números dos animais são predominantes em todo o lado. Mas descobrimos que há também muitas espécies que aumentaram ao longo dos últimos 50 anos, porque se dão bem nas paisagens alteradas pelos humanos ou porque beneficiam de projectos de conservação”, disse Germana Daskalova, da Escola de Geo-Ciências da Universidade de Edimburgo e a coordenadora do estudo.

Ainda assim, as espécies com populações mais pequenas são mais prováveis de mudar de ano para ano, potencialmente aumentando o seu risco de extinção a longo prazo.

“Só quando reunimos dados de todo o mundo podemos verdadeiramente compreender como é que as alterações globais influenciam a biodiversidade do nosso planeta”, comentou Isla Myers-Smith, da mesma instituição.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.