Esperanza, o primeiro quebra-ossos nascido em liberdade na Andaluzia, constrói o seu primeiro ninho

Quebra-ossos nos Pirinéus, Espanha. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

A ave construiu o seu primeiro ninho nas Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas. Para os peritos, este é um marco na história da reintrodução da espécie na Andaluzia.

O ninho de Esperanza foi localizado pela equipa que faz o seguimento das Aves Necrófagas daquela província espanhola, revelou a Junta de Andaluzia a 26 de Fevereiro deste ano.

Apesar de ainda ser prematuro acreditar no sucesso de uma postura, este é já considerado um feito importante, por ser a primeira vez que uma ave nascida em liberdade inicia o processo de reprodução, desde que o quebra-ossos se extinguiu na Andaluzia.

O quebra-ossos foi uma ave muito comum naquela região de Espanha até finais do século XIX. A última reprodução confirmada aconteceu em 1983 e o último quebra-ossos foi avistado em finais de 1986.

Para a conselheira andaluza Carmen Crespo, este é um “novo sucesso pelo seu grande significado para a biodiversidade da nossa comunidade”. 

Nascida em Fevereiro de 2015 do casal de quebra-ossos Tono e Blimunda, Esperanza foi a primeira ave desta espécie a nascer em liberdade na Andaluzia, depois de 50 anos sem quebra-ossos nos céus da região.

A sua progenitora, Blimunda, tinha apenas quatro anos e meio de idade quando fez a postura do ovo, quando o normal é que as aves desta espécie o façam com uma idade entre os nove e os dez anos. Por isso, os peritos pensaram que seriam poucas as possibilidades de êxito desta primeira tentativa de reprodução em liberdade.

Mas, apesar de tudo, quando a equipa de escaladores chegou ao ninho, numa escarpa rochosa de difícil acesso, localizou a cria, a quem foi colocado um emissor de satélite e anilhas para a sua posterior identificação e seguimento pelos técnicos.

Ainda assim, devido a uma avaria do emissor, a localização de Esperanza foi um enigma durante anos, chegando mesmo a acreditar-se que poderia ter morrido. Até que em Fevereiro de 2019 foi localizada, a deslocar-se por várias cadeias montanhosas espanholas.

“Desde então, Esperanza definiu o seu território definitivamente na Andaluzia, onde permaneceu com outros dois exemplares da sua espécie, Miguel e Nerpio. Os trios reprodutores nesta espécie são habituais”, explica a Junta de Andaluzia.

Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Em meados de Fevereiro de 2022, a equipa de seguimento desta espécie localizou Esperanza (agora com sete anos de idade), Miguel e Nerpio a construir o seu ninho.

O ano de 2022 já é histórico pelo número de posturas de quebra-ossos no Centro de Reprodução de Guadalentín, com um total de 16 ovos. “Um recorde que torna mais realista superarmos as 10 crias nascidas em cativeiro em Jaén no ano passado”, acrescenta a Junta.

O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

A área de distribuição histórica do quebra-ossos compreende quase todas as montanhas da Eurásia e Norte de África. Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra. Mas em Maio de 2018, a Fundação para a Conservação dos Abutres revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.


Saiba mais.

Pode o quebra-ossos regressar aos céus de Portugal?

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.