Chapim-real (Parus major). Foto: Luc Viatour/Wiki Commons

Estudo conclui que os chapins-reais da cidade têm menos stress que os da floresta

Cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, compararam as hormonas de stress em aves que vivem em ambiente urbano e outras que estão num meio mais natural.

Dois investigadores da Universidade de Lund descobriram que os chapins-reais que vivem em ambiente urbano têm menos hormonas do stress do que os seus primos que habitam a floresta, pelo menos durante uma parte do ano.

O chapim-real (Parus major), o maior dos chapins com um comprimento de cerca de 14 centímetros, está presente por toda a Europa, no Norte de África e em grande parte da Ásia, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em território português, a espécie é “relativamente abundante em zonas florestadas de todo o género, desde pinhais e montados até olivais e matas ribeirinhas e também em parques e jardins”, indica o portal Aves de Portugal

Na Suécia, os dois cientistas da Universidade de Lund, Anders Brodin e Hannah Watson, recolheram penas das caudas de 188 chapins-reais encontrados em sete diferentes ambientes urbanos, como parques públicos e jardins privados, e sete florestas, no sul e no centro da Suécia, ao longo de dois anos. Analisaram os níveis de corticosterona, a hormona associada ao stress mais comum nas aves, e publicaram recentemente os resultados na revista Conservation Physiology.

Chapim-real em Gotland, na Suécia. Foto: Bene Riobó/Wiki Commons

O facto de as aves urbanas apresentarem níveis mais baixos de corticosterona pode significar que “adaptaram-se tão bem ao novo ambiente que não ficam stressadas pelas elevadas densidades populacionais” em meio urbano, admite Anders Brodin, citado num comunicado da universidade sueca. Ou então, outra explicação possível, avança, é que “foram os indivíduos mais inteligentes e mais flexíveis que tiveram sucesso a colonizar ambientes urbanos em primeiro lugar”.

O recurso à medição das hormonas presentes nas penas e não no sangue dos chapins ajudou a evitar que as análises reflectissem o forte stress que estas aves sentem quando são capturadas. “As penas das caudas crescem durante duas ou três semanas no final do Verão e no início do Outono, por isso fornecem uma boa medição dos níveis médios de hormonas ao longo de um período contínuo”, descreve Hannah Watson, por sua vez.

De acordo com a investigadora, é durante esse período em que as aves substituem as suas penas por outras novas – o chamado ‘moulting’ ou muda de penas – que se formam também os bandos de Inverno, ligados à procura de alimentos. “Uma posição elevada [dentro do bando] é importante para se conseguir sobreviver ao Inverno, o que resulta em muitas brigas porque as aves estão a tentar posicionar-se no interior do bando.”

Ora, nas áreas urbanas e suburbanas da Suécia, existe uma grande concentração populacional de chapins-reais, o que segundo os investigadores se explica pelo hábito que os suecos têm de colocar alimentadores para aves quando chega o Inverno, nos quais esta espécie é a que mais se alimenta, e pela existência de muitas caixas-ninho. Neste país da Europa do Norte, os Invernos tendem a ser rigorosos, com neve e temperaturas muito baixas e pouca alimentação disponível na natureza.

Chapim-real. Foto: Tbird ulm/Wiki Commons

Ainda assim, a existência de um maior número de aves dentro das cidades poderia resultar num maior stress daquelas face ao ambiente florestal, por haver muita competição, questionaram-se os dois cientistas. Ou então sucederia o contrário, por haver mais comida disponível para todos.

Neste caso, os dois investigadores encontraram níveis “significativamente mais baixos” de corticosterona nas penas dos chapins-reais da cidade, concluindo que uma das principais explicações é que isso estará relacionado com a maior quantidade de alimentos que essas aves conseguem encontrar em áreas urbanas. Mesmo que seja numa altura do ano em que habitualmente as pessoas ainda não instalaram alimentadores nos seus jardins, como sucede no final do Verão.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.