Foto: António Rivas/Programa de Conservación Ex-situ

Estudo identifica factores de sucesso para reintroduzir lobos, linces e outros grandes carnívoros

Uma equipa de investigadores determinou quais são os critérios principais que determinam se projectos de ‘rewilding’ com grandes predadores vão ser bem sucedidos.

Uma equipa internacional liderada por cientistas da Universidade de Oxford analisou dados de quase 300 projectos de relocalização de animais, realizados entre 2007 e 2021, desenvolvidos em 22 países de cinco continentes. Estes trabalhos envolveram 18 espécies diferentes de carnívoros, incluindo grandes felinos, hienas e ursos.

Os resultados, publicados esta quinta-feira num artigo científico na revista Biological Conservation, indicam que cerca de dois terços dos projectos analisados tiveram sucesso, com os animais a sobreviver na natureza por mais de seis meses.

Iniciativas que envolveram lobos, pumas e ocelotes – estes últimos são felinos que habitam nas florestas da América do Sul – foram bem sucedidos a 100%. Já as chitas, leões africanos e linces-ibéricos apresentaram as taxas mais baixas, com desfechos favoráveis em 50% dos casos.

“Em geral, o recurso a uma ‘libertação suave’ (‘soft release’, no inglês) aumentou as hipóteses em 2,5 vezes”, indica uma nota de imprensa da Universidade de Oxford. Isso envolve, por exemplo, “aclimatizar os animais ao novo ambiente antes de serem totalmente libertados”.

Outro factor importante é a idade, pois os exemplares mais jovens, com um a dois anos, mostraram ser mais bem sucedidos, o que se deverá ao facto de se adaptarem mais facilmente a novos ambientes e de terem desenvolvido menos relações com o local onde nasceram.

Além do mais, em animais que tinham nascido em cativeiro, a taxa de sucesso decrescia 1,5 vezes quando comparada com exemplares nascidos na natureza. Ainda assim, apenas 37% dos mamíferos relocalizados foram observados a encontrar um parceiro ou a criar uma cria no seu novo habitat.

Esta dificuldade ligada aos esforços de ‘rewilding’ levou a equipa a realçar a importância de se conservarem os habitats que hoje já existem, de forma a que não seja necessária a reintrodução de espécies, em primeiro lugar.

“Nos últimos 15 anos, tornámos-nos mais bem sucedidos na translocação e na reintrodução de grandes carnívoros. Isso permite-nos sermos optimistas sobre o futuro de reconstruir ecossistemas danificados por todo o mundo, mas devemos-nos lembrar que o mais importante é sempre protegermos as populações de grandes carnívoros onde estão agora, antes de as perdermos”, sublinhou o primeiro autor do artigo científico, Seth Thomas, da Universidade de Oxford. “Mesmo apesar de termos mais sucesso, 34% das translocações individuais falham actualmente e isso não pode ser entendido como um substituto das acções imediatas de conservação para salvar essas populações.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.