Estudo revela que raposa é o carnívoro mais abundante do matagal mediterrânico

O primeiro estudo da densidade de carnívoros nos matagais mediterrânicos concluiu que a raposa é o mais abundante, seguido do sacarrabos. Menos comuns são o texugo e a gineta, revela um estudo publicado agora na revista Scientific Reports.

 

Tem sido um desafio conhecer e monitorizar a abundância dos mamíferos carnívoros, animais esquivos, para saber mais sobre o seu papel no ecossistema, como a dispersão de sementes, por exemplo.

Este estudo, publicado a 25 de Janeiro naquela revista científica, estimou a densidade das diferentes espécies de mamíferos carnívoros que vivem nos matagais mediterrânicos. A área de estudo foi o extremo ocidental da Serra Morena, na Extremadura espanhola, onde não há lobo nem lince.

 

Texugo

 

A equipa de investigadores espanhóis combinou diferentes ferramentas e métodos de análise e concluiu que na zona de estudo a raposa (Vulpes vulpes) é a espécie mais abundante, com 0,41 indivíduos por quilómetro quadrado. Depois surgem o sacarrabos (Herpestes ichneumon), o gato doméstico (Felis catus) e a fuinha (Martes foina), que têm uma densidade semelhante entre si, com cerca de 0,25 indivíduos por quilómetro quadrado. As espécies menos abundantes são o texugo (Meles meles) e a gineta (Genetta genetta), com 0,130 e 0,087 indivíduos por quilómetro quadrado, respectivamente.

 

Fuinha

 

“O conhecimento das comunidades de carnívoros e a sua estrutura é uma premissa fundamental para a sua gestão e conservação, para estimar tendências e compreender as complexas relações com as suas presas e com o meio”, disse um dos autores do estudo, José Jiménez, do Instituto de Investigação em Recursos Cinegéticos (centro misto do Conselho Superior espanhol de Investigações Científicas, CSIC, Universidade de Castela-La Mancha e Junta de Comunidades de Castela-La Mancha).

Até agora as estimativas da densidade só se podiam fazer com aquelas espécies cujos indivíduos são reconhecíveis pelas suas características, como a pelagem ou as marcas físicas, por exemplo. “Por isso, até agora não tínhamos dados referentes a espécies como o sacarrabos, cujos indivíduos não são identificáveis individualmente. A aplicação de metodologias de análise espacialmente explícitas, que não requerem necessariamente a identificação dos indivíduos, é um avanço notável no conhecimento de carnívoros crípticos e esquivos e na estimativa sobre as suas populações”, acrescentou o investigador.

 

Sacarrabos

 

De acordo com os autores do estudo, “estimativas credíveis da abundância de espécies e da estrutura das suas comunidades são essenciais para informar, apoiar e aceitar processos de gestão e decisão”, tanto mais que “a gestão e conservação de carnívoros é controversa, por causa dos vários interesses sócio-económicos e de conservação envolvidos”.

O estudo é fruto da colaboração de investigadores do CSIC, Ministério da Agricultura e Pesca, Alimentação e Ambiente, a empresa TRASGATEC e a Universidade de Oviedo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.