Fotógrafo português é um dos vencedores do Wildlife Photographer of the Year 2021

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João Rodrigues venceu a categoria Behaviour: Amphibians and Reptiles com uma imagem de salamandras-de-costelas-salientes. O grande vencedor desta edição do Wildlife Photographer of the Year foi o biólogo e fotógrafo francês Laurent Ballesta, foi anunciado ontem à noite.

A fotografia “Where the giant newts breed” conseguiu captar o momento de acasalamento entre duas salamandras-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl).

Foto: João Rodrigues/Wildlife Photographer of the Year

João Rodrigues foi, assim, surpreendido por este casal de anfíbios numa zona de floresta inundada. Foi a primeira oportunidade em cinco anos de mergulhar neste lago que apenas se forma em Invernos de chuvas excepcionalmente fortes, quando os rios subterrâneos transbordam.

O fotógrafo português teve apenas uns segundos para ajustar as definições da sua câmara fotográfica antes de os anfíbios desaparecerem.

Os vencedores desta edição do Wildlife Photographer of the Year foram anunciados ontem à noite numa cerimónia no Museu de História Natural de Londres, transmitida online.

A fotografia “Creation”, do francês Laurent Ballesta, foi seleccionada como a grande vencedora, de entre mais de 50.000 imagens a concurso, vindas de 95 países.

Foto: Laurent Ballesta/Wildlife Photographer of the Year

Laurent Ballesta conseguiu captar peixes da espécie Epinephelus polyphekadion – que vivem em recifes de corais e que estão classificados como Vulneráveis pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) – saindo de uma nuvem de ovos e esperma na região de Fakarava, na Polinésia Francesa.

“O grande vencedor deste ano revela um mundo subaquático escondido, um momento fugaz de um fascinante comportamento animal a que muito poucos assistiram”, comentou, em comunicado enviado à Wilder, Doug Gurr, director do Museu de História Natural de Londres.

Todos os anos, durante cinco anos, Laurent e a sua equipa regressaram àquela lagoa, mergulhando dia e noite para não perder a desova anual que apenas acontece na Lua cheia de Julho. Ao anoitecer, à equipa de Laurent juntavam-se centenas de tubarões-cinzentos-dos-recifes (Carcharhinus amblyrhynchos) que vinham caçar aqueles peixes.

A sobre-pesca é uma ameaça real para os peixes mas ali os animais estão protegidos, dentro de uma reserva da biosfera.

“A fotografia trabalha tantos níveis”, comentou Rosamund Roz Kidman Cox, presidente do júri, escritora e editora. “É surpreendente, energética e intrigante e tem uma beleza de outro mundo. Também capta um momento mágico – uma verdadeira explosão de vida – deixando a ponta final do êxodo de ovos suspensa por um momento, como um ponto de interrogação simbólico.”

Doug Gurr relembrou o contexto em que surge esta fotografia. “Naquele que pode ser um ano decisivo para o planeta, com discussões cruciais a acontecer na COP15 e na COP26, a ‘Creation’ de Laurent Ballesta é uma poderosa lembrança daquilo que podemos perder se não resolvermos o impacto da humanidade no nosso planeta. A protecção dada a esta espécie ameaçada pela reserva da biosfera sublinha a diferença pela positiva que podemos fazer.”

O melhor Jovem Fotógrafo

Aos 10 anos de idade, o indiano Vidyun R. Hebbar venceu o Young Wildlife Photographer of the Year 2021 pela sua fotografia “Dome home”, mostrando uma aranha no momento em que passa um tuk-tuk.

Foto: Vidyun R. Hebbar/Wildlife Photographer of the Year

Vidyun participou pela primeira vez neste concurso quando tinha oito anos. Diz que gosta de fotografar as criaturas em que quase ninguém repara e que vivem nas ruas e parques perto da sua casa na cidade de Bengaluru, na Índia.

“É uma forma muito imaginativa de fotografar uma aranha”, comentou Rosamund Roz Kidman Cox. “A fotografia está perfeitamente enquadrada, o foco está perfeito. Mas a parte verdadeiramente inteligente é o fundo criativo, as cores vivas de um tuk-tuk.”

Natalie Cooper, investigadora no Museu de História Natural de Londres e membro do júri, disse que “o júri adorou esta fotografia desde o início do processo de seleccção. É uma forma excelente de nos lembrarmos de olhar mais de perto para os pequenos animais com que vivemos no dia-a-dia e de levar a câmara fotográfica connosco para todo o lado. Nunca sabemos de onde virá uma imagem vencedora”.

Os dois grandes vencedores foram seleccionados de 19 vencedores de categorias que celebram a beleza cativante do nosso mundo natural com habitats ricos, interessantes comportamentos animais e espécies extraordinárias. A competição deste ano teve três categorias novas como a “Oceans – The Bigger Picture” e “Wetlands – The Bigger Picture” para chamar a atenção para estes ecossistemas cruciais.

Cada fotografia foi avaliada de forma anónima por um painel de peritos pela sua originalidade, narrativa, excelência técnica e prática ética.

Estes são os vencedores desta edição:

Animals in their Environment: “Grizzly leftovers”, por Zack Clothier (Estados Unidos)

Foto: Zack Clothier/Wildlife Photographer of the Year

Animal Portraits: “Reflection”, por Majed Ali (Kuwait)

Foto: Majed Ali/Wildlife Photographer of the Year

Behaviour: Invertebrate: “Spinning the cradle”, por Gil Wizen (Israel/Canada)

Foto: Gil Wizen/Wildlife Photographer of the Year

Behaviour: Birds: “The intimate touch”, por Shane Kalyn (Canada)

Foto: Shane Kalyn/Wildlife Photographer of the Year

Behaviour: Mammals: “Head to head”, por Stefano Unterthiner (Itália)

Foto: Stefano Unterthiner/Wildlife Photographer of the Year

Behaviour: Amphibians and Reptiles: “Where the giant newts breed”, por João Rodrigues (Portugal)

Foto: João Rodrigues/Wildlife Photographer of the Year

Natural Artistry: “Bedazzled”, por Alex Mustard (Reino Unido)

Foto: Alex Mustard/Wildlife Photographer of the Year

Oceans: The Bigger Picture: “Nursery meltdown”, por Jennifer Hayes (Estados Unidos)

Foto: Jennifer Hayes/Wildlife Photographer of the Year

Plants and Fungi: “Rich reflections”, por Justin Gilligan (Austrália)

Foto: Justin Gilligan/Wildlife Photographer of the Year

Underwater: “Creation”, por Laurent Ballesta (França)

Foto: Laurent Ballesta/Wildlife Photographer of the Year

Urban Wildlife: “The spider room”, por Gil Wizen (Israel/Canada)

Foto: Gil Wizen/Wildlife Photographer of the Year

Wetlands – The Bigger Picture: “Road to ruin”, por Javier Lafuente (Espanha)

Foto: Javier Lafuente/Wildlife Photographer of the Year

Photojournalism: “Elephant in the room”, por Adam Oswell (Austrália)

Foto: Adam Oswell/Wildlife Photographer of the Year

Photojournalist Story Award: “The healing touch”, por Brent Stirton (África do Sul)

Foto: Brent Stirton/Wildlife Photographer of the Year

Rising Star Portfolio Award: “Cool time, from Land time for sea bears”, por Martin Gregus (Canadá / Eslováquia)

Foto: Martin Gregus/Wildlife Photographer of the Year

Portfolio Award: “Face-off, from Cichlids of Planet Tanganyika”, por Angel Fitor (Espanha)

Foto: Angel Fitor/Wildlife Photographer of the Year

11-14 Years: “Sunflower songbird”, por Andrés Luis Dominguez Blanco (Espanha)

Foto: Andrés Luis Dominguez Blanco/Wildlife Photographer of the Year

15-17 Years: “High-flying jay”, por Lasse Kurkela (Finlândia)

Foto: Lasse Kurkela/Wildlife Photographer of the Year

As 100 melhores fotografias serão expostas no Museu de História Natural de Londres, com legendas dos cientistas e peritos daquele museu, a partir de 15 de Outubro de 2021 até 5 de Junho de 2022. Depois, a exposição fotográfica irá percorrer vários países, como a Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Alemanha e Estados Unidos.

A próxima edição do Wildlife Photographer of the Year, a 58ª, abre a 18 de Outubro e termina a 9 de Dezembro de 2021. Podem concorrer fotógrafos de todas as idades, nacionalidades e níveis de experiência.

Os prémios Wildlife Photographer of the Year começaram em 1965, numa iniciativa da revista BBC Wildlife Magazine, que na altura se chamava Animals. Nesse ano 500 fotografias foram a concurso. Desde então, o evento cresceu e, em 1984, o Museu de História Natural de Londres passou a estar envolvido no projecto. O grande objectivo é inspirar as pessoas para apreciarem e conservarem o mundo natural.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.