Greta Thunberg, 2018. Foto: Anders Hellberg/WikiCommons

Fundação Thunberg vence prémio Gulbenkian e vai doar um milhão de euros

A activista climática Greta Thunberg venceu o prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de um milhão de euros, foi anunciado esta manhã. O prémio será totalmente doado a quem está na linha da frente da crise climática.

 

A jovem sueca Greta Thunberg foi a vencedora deste prémio anual que quer “distinguir pessoas e/ou organizações de todo o mundo cujas contribuições para a mitigação e adaptação às alterações climáticas se destacam pela originalidade, inovação e impacto”, segundo um comunicado oficial.

 

Greta Thunberg, 2018. Foto: Anders Hellberg/WikiCommons

 

Na sua primeira edição, este galardão recebeu 136 nomeações, correspondendo a 79 organizações e 57 personalidades provenientes de 46 países.

Jorge Sampaio, presidente do Grande Júri deste Prémio e Presidente da República Portuguesa entre 1996 e 2006, sublinhou o amplo consenso desta escolha. Lembrou, em especial, “a forma como Greta Thunberg conseguiu mobilizar as gerações mais novas para a causa do clima e a sua luta tenaz por mudar um status quo que teima em persistir, que fazem dela uma das figuras mais marcantes da atualidade”.

Greta Thunberg disse estar “incrivelmente honrada e extremamente grata” por este prémio. “Isto significa muito para mim e espero que me ajude a fazer mais pelo mundo.”

A totalidade do dinheiro, um milhão de euros – “que é mais do que eu até consigo imaginar”, comentou Greta Thunberg – vai ser doada através da sua fundação a diferentes organizações e projectos “que estão a trabalhar para ajudar as pessoas na linha da frente afectadas pela crise climática e pela crise ecológica”.

O prémio servirá ainda para ajudar organizações que “lutam por um mundo sustentável e que lutam para defender a natureza e o mundo natural”.

A Fundação Thunberg começará por doar 100 mil euros à SOS Amazonia campaign, da Fridays for Future Brazil, que combate a Covid 19 na Amazónia, e 100 mil euros à Stop Ecocide Foundation para tornar o ecocídio um crime internacional.

Nascida em 2003, Greta Thunberg alcançou uma grande projecção internacional ao alertar para a crise existencial que a humanidade enfrenta em virtude das alterações climáticas. A sua influência global é sem precedentes para alguém da sua idade. Foi considerada pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, tendo sido eleita Personalidade do Ano pela mesma Revista em 2019; a Revista Forbes incluiu-a na lista das 100 Mulheres mais poderosas de 2019 e teve duas nomeações consecutivas para o Prémio Nobel da Paz (2019 e 2020).

O Grande Júri do prémio Gulbenkian para a Humanidade destacou o lado carismático e inspirador de Thunberg e a força da sua mensagem – singular e incómoda –  capaz, por isso, de despertar sentimentos opostos, e a sua capacidade de marcar a diferença no combate às alterações climáticas.

Em Fevereiro deste ano, Greta Thunberg anunciou que iria usar o dinheiro que recebeu em Dezembro do prémio Right Livelihood Award – considerado um prémio Nobel alternativo – para lançar a sua Fundação sem fins lucrativos. Esse montante, cerca de 96.500 euros, foram utilizados na fundação que quer promover a sustentabilidade ecológica e social.

Entre os membros do júri do prémio Gulbenkian estão Hans Joachim Schellnhuber (Fundador e Diretor Emérito do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático), Hindou Oumarou Ibrahim (ativista ambiental, Presidente da Associação de Mulheres e Povos Indígenas do Chade), Johan Rockström (Diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático e Professor de Ciências do Sistema Terrestre na Universidade de Potsdam), Katherine Richardson (Coordenadora do Centro de Ciências da Sustentabilidade da Universidade de Copenhaga), Miguel Arias Cañete (antigo Comissário Europeu da Energia e Ação Climática), Miguel Bastos Araújo (Geógrafo, Prémio Pessoa 2018), Runa Khan (Fundadora e Diretora Executiva da ONG Friendship e Presidente da Global Dignity Bangladesh) e Sunita Narain (escritora e ativista ambiental, Diretora do Centro de Ciência e Ambiente de Nova Deli).

Um Comité de Especialistas, presidido Miguel Bastos Araújo, avaliou numa primeira fase, as 136 nomeações, apresentando uma shortlist com 10 candidatos, para apreciação final do Grande Júri. Este Comité conta com nomes como Arlindo Oliveira (Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico), Carsten Rahbek(Diretor do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga), Rik Leemans (Diretor do Grupo de Análise de Sistemas Ambientais da Universidade de Wageningen) e Viriato Soromenho Marques (Professor de Filosofia Política na Universidade de Lisboa).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.