Ilustradora portuguesa vence prémio internacional Illustraciencia 2018

Rita Cortês de Matos venceu a 6ª edição dos prémios internacionais de ilustração científica e de natureza Illustraciencia, na Categoria Científica, foi hoje revelado. O seu trabalho foi o ciclo de vida do maior escaravelho da Europa, a vaca-loura (Lucanus cervus).

 

Esta edição do concurso, organizado pela Associação Catalã de Comunicação Científica e pelo Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais, recebeu mais de 500 ilustrações vindas de vários países. 

A obra vencedora do prémio na Categoria Científica, no valor de 600 euros e escolhida por um júri – composto por elementos das áreas da comunicação de ciência e ilustração científica -, é o ciclo de vida do escaravelho vaca-loura.

 

 

As populações de vaca-loura enfrentam um declínio generalizado. Este escaravelho é a espécie bandeira dos invertebrados dependentes da madeira morta. “Este grupo de organismos representa cerca de 30% das espécies florestais a nível mundial, pelo que urge conhecer a sua distribuição e principais ameaças à sua conservação”, segundo os responsáveis pelo Censo Nacional da Vaca-loura.

Em Portugal está a ser feito um censo, com a ajuda da Ciência Cidadã, para reunir informação sobre a distribuição e o estado das populações da vaca-loura e de outras três espécies de escaravelhos. Em 2017, registaram-se 590 avistamentos confirmados de vacas-louras em Portugal, entre Abril e Setembro – quase mais 25% do que no ano anterior. A maior parte dos avistamentos deram-se nas zonas Norte e Centro Norte de Portugal.

O Projeto VACALOURA.pt – iniciativa coordenada pela Associação Bioliving em parceria com a Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, com a Sociedade Portuguesa de Entomologia e com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas – “congratula a ilustradora Rita Cortês pelo prémio recebido relativamente à sua ilustração do ciclo de vida da vaca-loura”, comentaram hoje à Wilder os responsáveis por este projecto.

“Quando a Rita nos contactou ficámos muito felizes pelo seu interesse, principalmente por ser mais uma forma de alertar as pessoas para a necessidade de conservar esta espécie tão interessante.”

O vencedor da anterior edição da Illustraciencia também era português. Pedro Salgado, ilustrador naturalista especializado em espécies de peixes marinhos, venceu a Illustraciencia com uma série de quatro ilustrações de peixes do Mediterrânico: mero, serrano-de-rolo, serrano-riscado e serrano-alecrim.

Este ano, os prémios distinguiram ainda Julia Porotov que venceu na Categoria Naturalista, com o ecossistema da taiga siberiana. Este trabalho ilustra o ambiente da taiga siberiana, incluindo a sua flora e fauna.

 

 

Estas duas ilustrações foram as escolhidas de entre as 40 propostas finalistas, seleccionadas pelo júri e que farão parte de uma exposição itinerante. Poderão ser vistas de 4 de Outubro a Dezembro deste ano no Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais, em Madrid.

Larissa Ribeiro Lourenço Fernandes ganhou o prémio especial do público pela sua obra Sudán, o último rinoceronte macho branco. A ilustração recebeu um certificado de mérito.

 

 

O júri atribuiu ainda uma menção especial às obras Heteromorphic Ammonoids of the Matanuska Formation, Turonian, Alaska, de Kate LoMedico Marriott e a Ramphastos, diversidade de picos do Neotrópico, de Santiago Forero Avellaneda, ambos da Categoria Científica; e às obras Papagaios, de Wilma Ander, e Megasoma elephas, de Carlos Ortega Contreras, na Categoria Naturalista.

 

Ramphastos, diversidad de picos del Neotrópico. Ilustração: Santiago Forero Avellaneda

 

Papagaios. Ilustração: Wilma Ander

 

Megasoma elephas. Ilustração: Carlos Ortega Contreras

 

 

Heteromorphic Ammonoids of the Matanuska Formation, Turonian, Alaska. Illustração: Kate LoMedico Marriott

 

 

Dar à ilustração científica “a relevância que merece”

“Esta iniciativa abre um espaço para os ilustradores mostrarem as suas obras e para premiar o seu excelente trabalho”, comentou Miquel Baidal, coordenador da iniciativa, em comunicado. Mas não, Na sua opinião, “a Illustraciencia é uma iniciativa que quer dar à ilustração a relevância que merece, já que é um trabalho fundamental para o avançar do conhecimento científico”.

A Illustraciencia começou como um projecto para aproximar a Ciência à sociedade através da ilustração. A ideia evoluiu para um prémio internacional que quer dar visibilidade ao trabalho dos ilustradores, independentemente do seu país de origem. Os critérios do júri são o rigor científico, clareza, originalidade e capacidade de divulgação.

Esta iniciativa “transformou-se numa plataforma internacional para divulgar os profissionais da ilustração científica e de natureza que aproximam a ciência e a natureza à sociedade”, disse Miquel Baidal, coordenador do Prémio. “O nosso objectivo é continuar a transmitir a importância da ilustração científica e premiar os profissionais que se dedicam a esta disciplina.”

A Illustraciencia, num projecto conjunto do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais, organiza actividades gratuitas sobre desenho de natureza, como ateliers de ilustração para jovens e crianças e  um encontro de ilustradores a 2 de Novembro.

“Esta colaboração que iniciámos com a Illustraciencia permite dar maior visibilidade ao trabalho dos ilustradores científicos”, comentou Pilar López García Gallo, directora do Departamento de Comunicação e Programas Públicos do Museu espanhol. Este trabalho conjunto ajuda “a difundir o conhecimento, um dos objectivos fundamentais da instituição que represento”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia aqui a entrevista a Rita Cortês de Matos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.