“Dediquei todo o meu tempo livre à vaca-loura”

Rita Cortês de Matos ganhou os prémios Illustraciencia 2018 na Categoria Científica. Aos 49 anos, diz ser uma “aprendiz de ilustradora”. Vive em Beja, gosta imenso de desenhar insectos. Esta foi a nossa conversa, horas depois de saber que tinha ganho este galardão.

 

WILDER: Porque escolheu a vaca-loura para concorrer à Illustraciencia?

Rita Cortês de Matos: Gosto imenso de desenhar insectos. Quando vi uma publicação do Facebook do projecto Vacaloura.pt pensei ‘É uma boa ideia’. Mas não sabia nada sobre a espécie. A partir daí comecei a procurar informação. Contactei os responsáveis pelo projecto a pedir dados e li imenso sobre este escaravelho. Levei um mês a recolher informação e a preparar-me.

 

W: Qual foi a técnica que utilizou?

Rita Cortês de Matos: Fiz os desenhos a grafite sobre poliéster e dei-lhes cor digitalmente. Inicialmente pensei em pintá-los a aguarela ou lápis de cor. Mas já não tinha tempo. Se tivesse mais uma semana tinha feito isso e incluído ainda mais detalhes. Há sempre mais qualquer coisa a acrescentar. Mas tive de entregar na véspera do prazo terminar; só não entreguei no próprio dia para garantir que tudo corria bem.

 

W: Quanto tempo demorou, então, a fazer o ciclo de vida da vaca-loura?

Rita Cortês de Matos: Ao todo penso que demorei cerca de um mês e meio. Dediquei todo o meu tempo livre à vaca-loura. Ia fazendo os desenhos do macho e da fêmea, depois ia investigando mais sobre o ciclo de vida da espécie. Nunca tive um elemento da composição completamente terminado.

 

 

W: O que aprendeu sobre este escaravelho que mais a impressionou?

Rita Cortês de Matos: O facto de esta espécie viver vários anos no subsolo ou enfiada no tronco das árvores, em forma de popa ou larva, e de viver apenas entre dois a três meses em forma de escaravelho. Impressionou-me o tanto que esta espécie investe na aparência física, lindíssima, de escaravelho, mesmo que seja apenas por tão pouco tempo. Os machos, por exemplo, emergem, acasalam e morrem.

 

W: Quando começou a desenhar?

Rita Cortês de Matos: Acho que desde sempre (risos). Desde que sei pegar num lápis. Comecei pelo desenho arqueológico, em Mértola, por exemplo. A minha formação é História. Mas já tenho feito outras coisas, como investigação e dar aulas. Fiz arqueologia subaquática. Mas o desenho tem andado sempre comigo. Faço parte dos Urban Sketchers, já publiquei livros infantis. Mas agora quero investir mais, de forma a que o desenho possa ser a minha ocupação principal. Tenho feito vários cursos. Aprendi imenso no curso de Ilustração Científica e Desenho de Natureza, do professor Pedro Salgado. Foi uma oportunidade única para aprender com alguém que é a referência. Devo-lhe tudo.

 

W: E o que significa para si esta distinção da Illustraciencia?

Rita Cortês de Matos: Para dizer a verdade, ainda não acredito bem (risos). Soube há apenas umas horas e pensei que estavam a brincar comigo. Ter sido seleccionada para as 40 melhores ilustrações já foi fantástico! Mas é óptimo, claro! Ainda mais para quem quer começar a dedicar-se ainda mais ao desenho.

 

W: Que conselhos dá a quem começar a desenhar mas acha que não tem jeito?

Rita Cortês de Matos: Diria para pegar num lápis e num bloco e começar a desenhar o que vê à sua volta. Que saia de casa e vá para o jardim, para a natureza. Que se inscreva nos encontros dos Urban Sketchers ou nos vários cursos de desenho que estão a decorrer. E que não tenha medo de desenhar.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

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Leia a entrevista Wilder ao responsável pelo primeiro censo português à vaca-loura.

Descubra o que está a ser feito pela espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.